Sobre o LAPA

O LAPA (Laboratório de Estudos e Práticas da Autogestão), muito modestamente, se propõe como um pequeno círculo de amigo(a)s e camaradas que possuem vínculos, afinidades, afetos e interesses em comum em torno do tema da auto-organização popular, talvez, como uma via possível para a emancipação de todos os subalternos e trabalhadores. Assim, é uma aposta simultânea na amizade e na revolução.

Por hora, o LAPA não se constitui como um coletivo, uma entidade ou uma organização, ainda que em potecial possa vir a ser isso ou outras coisas que nem sequer imaginamos. Como círculo, temos vínculos que nos unem para além do espaço que nos separa. Os estudos e ações que compartilharemos como círculo pode inclusive dar fôlego e alento para a formação e/ou consolidação de iniciativas coletivas e/ou individuais, nos mais distintos lugares onde nos situamos como vizinhos, estudantes, trabalhadores, etc.

A idéia de Laboratório, até agora sugerida, nasce como uma metáfora que se orienta pela dimensão experimentalista que carrega todo laboratório – e isso nos interessa particularmente, experimentar idéias e práticas, aprender e se apropriar do melhor dos processos políticos e sociais dos mais diversos movimentos de liberação que se levantaram contra todas as ordens e esquemas de dominação (inclusive os de esquerda). E mais: nosso laboratório é de bolso, se materializa e desmaterializa segundo determinadas condições ambientais e temperamentais, e talvez seremos muito mais tomados e possuídos pelas experiências do que a dissecaremos e a controlaremos, ao contrário do que ocorre com os homens-de-guarda-pó.

E se nos lançaremos a estudar e praticar a autogestão é porque ela todavia nos parece ser a melhor forma encontrada pelos dominados até hoje para que a terra, os meios de produção, o trabalho e a política (com ou sem o Estado) não se converta em monopólio e privilégio de uns poucos, e logo, instrumento de dominação, opressão e submissão de classe, casta, grupos ou camarilhas. E para isso é importante que nos alimentemos das teorias e narrativas que fundaram a autogestão como um princípio político, e que transcende, aliás, muitos projetos políticos ou ideologias (como o anarquismo e o comunismo); e ao mesmo tempo buscar compreender os caminhos e as vicissitudes das experiências de autogestão que tiveram curso, especialmente, na história moderna.



quarta-feira, 11 de novembro de 2009




Texto sobre o FoNEPe (Fórum Nacional de Entidades de Pedagogia)

Realizado na cidade/metrópole de Belo Horizonte, encravada entre as iniveláveis montanhas das minas gerais, no ano cristão de 2009, entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro, o FoNEPe teve como tema a regulamentação e a formação do pedagogo em questão. A idéia do texto é externar as impressões que dois intrépidos lapianos tiveram do evento, nas suas múltiplas dimensões, sentidos e sensações em todos os graus da consciência, inclusive fora dela.
Para tanto, não temos a pretensão de fazer um relato formal e estrito dos seus espaços, e certamente esqueceremos de mencionar algo, mas tentaremos articular as subjetividades e objetividades de tudo e todos que compuseram o espaço, compreendendo as unidades dentro dessa totalidade. Os dois lapianos em questão são Raphael, recém ingresso no curso de pedagogia na Unirio, oriundo do curso de educação física da Estácio de Sá, um dos últimos românticos vegetarianos, que como todo militante iniciante vem acumulando funções, dada sua grande disposição de contribuir. O outro é Estevão Garcia, professor de educação física, ex-militante do movimento de sua área, hoje mestrando na Fiocruz, de vocações espíritas-materialis tas, com um pouco de acumulo no debate sobre a regulamentação. Deixando de lado a vocação narcisista, partamos ao que realmente interessa nesse texto, ou seja, o debate sobre o encontro.
Foi notório o esforço, e, por conseguinte o aprendizado, dos membros da sede na organização do evento. Certamente mais adiante em um tempo que esperamos não muito distante, não somente a sede, mas todos participantes possam se envolver nisso que chamamos de autogestão dos nossos espaços, para que então todos possam ter suas experiências e aprendizados. A forma fraterna, carinhosa e atenciosa, na media das possibilidades individuais ou estruturais, que cada delegação foi recebida, deu o tom de todo o restante do encontro. Importante ressaltar todo o contexto histórico em que esse fórum acontece, num período de grande refluxo dos movimentos populares combativos, inclusive o estudantil, dado as formas de ataques estruturais, culturais, objetivos e subjetivos que os mandatários desse sistema hegemônico fazem diuturnamente. Em especial pelo fato da antiga representação dos estudantes em nível nacional (UNE) hoje ser um mero bichinho de
estimação do governo federal (um pombo correio talvez, que leva e traz as orientações do governo Lula PT/PR/PCdoB/ PSB/PMDB ?). A reorganização do MEPe (Movimento Estudantil de Pedagogia), é imperioso assim como de todos movimentos de área, mas que certamente não podem cometer os mesmos equívocos do passado, que cada um de nós pode e deve avaliar, inclusive ter conclusões diferentes, mas sem medo de errar, é consenso que a articulação deve ser feita com a base, para que inclusive num ponto mais adiante não haja mais essa dicotomia direção/base. Nossas acomodações foram distintas para cada momento do encontro. Uma para as atividades da programação, mesas, grupos de discussão, alimentação e culturais, que certamente não deixou nada a desejar nas dimensões, limpeza e recursos materiais. Já a parte destinada aos alojamentos a nosso ver foi muito boa, apesar ser distante do local do evento, dificultando o deslocamento dos
participantes. Toda essa conformação espacial dos alojamentos de encontros estudantis permite certamente uma maior troca de idéias e fluidos entre os presentes. Evidentemente que, sem nenhuma responsabilidade da organização, a noite em que choveu e molhou parcialmente algumas salas foi meio chato, mas nada que a galera do violão não reanimasse a todos.
A primeira mesa foi sobre a reforma universitária, e a nosso ver o tema foi muito bem contemplado pelo professor responsável, levantando e problematizando, dentro da contextualização histórica, os principais pontos em debate sobre o tema hoje. Foi salientado que o foco das atenções deve ser nos problemas crônicos da classe trabalhadora, e lembrarmos que o mundo é uma esfera maior que a circunferência do nosso próprio umbigo (em especial para aqueles que só se preocupam em reclamar do banho que é frio por três dias). A noite vai chegando, e com ela vai aumentando nas pessoas – com o auxílio sempre bem vindo dos produtos etílicos – a disposição de trocas de afetividades interpessoais. O DJ vai dando o tom da festa, mas parece ainda que a maior parte das pessoas ainda não está tão liberta quanto gostaria. Enfim, processos de desenvolvimento da desinibição. A primeira mesa do dia seguinte, que quase não contou com a presença da
professora do Paraná, propôs como tema a formação do pedagogo e as diretrizes curriculares nacionais (DCN´s). O sentimento pós essa mesa foi de que poderia se ter aprofundado mais o debate sobre o processo de lutas pelas DCN´s, vinculadas a um projeto popular. Além disso, a própria composição da mesa deveria contar com um contraponto à defesa que se fez as atuais diretrizes por parte do professor da UFMG, que é fortemente criticada e combatida pelo movimento estudantil de pedagogia. Apenas no debate essas divergências se polarizaram e daí pode-se notar as diferenças entre as propostas, mostrando mais uma vez a necessidade do rigor e do compromisso dos estudantes com um projeto popular. Após o almoço, aliás, um grande parênteses para falar da comida: Espetacular; quase igual a comidinha da mamãe. Em todos os dias uma comida de qualidade, em todos os períodos do dia, com um atendimento por parte das nossas companheiras do coletivo de
mulheres, a variedade que certamente atendeu também a requisitos nutricionais importantes para estarmos dispostos as reflexões e ao trabalho, além de atender também ao público vegetariano, não somente com uma saladinha, mas com carne de soja, berinjela e por ai vai. Bom, depois dessa apetitosa digressão, falemos da terceira mesa, que foi sobre a regulamentação da profissão. O debate no meio da pedagogia ainda está muito incipiente, e a nosso ver é imperioso compreender a matriz epistemológica de todo o processo de regulamentação da profissão. A composição da mesa teve duas características, sendo uma, a exposição da teoria marxiana da revolução, e outra uma exposição pontual sobre pontos a serem considerados no processo de regulamentação. Compreendemos que a ordem como estava colocado o tema do evento, trazendo antes a palavra regulamentação antes da formação, demonstra claramente como se dá o processo de adaptação da
formação ao processo de segmentação da classe trabalhadora em nichos corporativistas que tendem a seguir fielmente todas as formas de organização do seu tão (des) conhecido mercado de trabalho, onde é cada vez mais necessário cercar nossa profissão e garantir nossos empregos. As exposições e o debate não deram conta de todos os anseios de aprofundamento desse tema, o que entendemos que fica como obrigação de todos fomentar esse debate nas respectivas faculdades para que no 30º ENEPe (Encontro Nacional de Estudantes de Pedagogia) tenhamos um grande acúmulo para deliberarmos de forma consciente.
A última noite de cultural estava se aproximando, e pode-se dizer que era a noite dos desesperados, ou era agora ou não era mais. Festa muito boa, as pessoas já se divertindo muito mais, e pra contribuir uma chuva fresca pra aliviar todo o calor que vinha fazendo, e uma ótima oportunidade para um grupo de dançadores da chuva, aproveitarem e fazerem suas reverências a deusa chuva e ficarem todos molhadinhos.
No dia seguinte a mesa que mais empolgou a todos, e trouxe certamente um “gás” para cada militante, foi sobre a criminalização do movimento social. Certamente que agora todos sabem que não se trata de movimento social, e sim de movimento popular, e a composição da mesa demonstrou bem isso com representantes dos movimentos do campo e da cidade. A participação maciça da plenária demonstrou o comprometimento dos estudantes presentes com a questão da organização popular, da articulação camponesa/operaria, da necessidade das denuncias constantes as violências sofridas pela classe trabalhadora através principalmente pela criminalização da pobreza e da validade de apoiarmos toda e qualquer iniciativa contra hegemônica. A plenária final ainda no formato deliberativo por representantes das entidades teve um clima ameno, onde as divergências eram expostas de forma respeitosa, e ponto por ponto tudo foi democraticamente votado. Os lapianos
entendem esse momento de existência ainda dos representantes, pois também ainda existem as entidades; mas compreendemos a necessidade de superarmos essa estrutura de funcionamento da organização dos movimentos para uma auto-organização, onde não há a necessidade da entidade e do representante, e cada estudante se representa e faz da sua participação o funcionamento da sua entidade. Muitos pontos ainda ficaram para ser fechados, e outras reuniões e conversas virtuais devem dar conta de deixar tudo pronto.
No mais a avaliação não poderia ser diferente de que o evento traz sentidos e significados positivos para o avanço dos indivíduos e os coletivos na reorganização material e mental do processo de entendimento da lógica de funcionamento desse nefasto sistema capitalista, para que ao menos de forma bem libertária, possamos ter criatividade de propor outras formas de organização dos seres humanos.

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