Sobre o LAPA

O LAPA (Laboratório de Estudos e Práticas da Autogestão), muito modestamente, se propõe como um pequeno círculo de amigo(a)s e camaradas que possuem vínculos, afinidades, afetos e interesses em comum em torno do tema da auto-organização popular, talvez, como uma via possível para a emancipação de todos os subalternos e trabalhadores. Assim, é uma aposta simultânea na amizade e na revolução.

Por hora, o LAPA não se constitui como um coletivo, uma entidade ou uma organização, ainda que em potecial possa vir a ser isso ou outras coisas que nem sequer imaginamos. Como círculo, temos vínculos que nos unem para além do espaço que nos separa. Os estudos e ações que compartilharemos como círculo pode inclusive dar fôlego e alento para a formação e/ou consolidação de iniciativas coletivas e/ou individuais, nos mais distintos lugares onde nos situamos como vizinhos, estudantes, trabalhadores, etc.

A idéia de Laboratório, até agora sugerida, nasce como uma metáfora que se orienta pela dimensão experimentalista que carrega todo laboratório – e isso nos interessa particularmente, experimentar idéias e práticas, aprender e se apropriar do melhor dos processos políticos e sociais dos mais diversos movimentos de liberação que se levantaram contra todas as ordens e esquemas de dominação (inclusive os de esquerda). E mais: nosso laboratório é de bolso, se materializa e desmaterializa segundo determinadas condições ambientais e temperamentais, e talvez seremos muito mais tomados e possuídos pelas experiências do que a dissecaremos e a controlaremos, ao contrário do que ocorre com os homens-de-guarda-pó.

E se nos lançaremos a estudar e praticar a autogestão é porque ela todavia nos parece ser a melhor forma encontrada pelos dominados até hoje para que a terra, os meios de produção, o trabalho e a política (com ou sem o Estado) não se converta em monopólio e privilégio de uns poucos, e logo, instrumento de dominação, opressão e submissão de classe, casta, grupos ou camarilhas. E para isso é importante que nos alimentemos das teorias e narrativas que fundaram a autogestão como um princípio político, e que transcende, aliás, muitos projetos políticos ou ideologias (como o anarquismo e o comunismo); e ao mesmo tempo buscar compreender os caminhos e as vicissitudes das experiências de autogestão que tiveram curso, especialmente, na história moderna.



quinta-feira, 3 de novembro de 2011

PARTICIPAÇÃO NO NOVEMBRO NEGRO USP

"Esforçamo-nos para adquirir, dentro dos limites de nossas possibilidades, esta educação integral que deve ser generalizada; estudamos os escritores que falaram dela, procuramos informar-nos sobre as novas tentativas, com maior ou menor êxito, relativa à educação particular e coletiva; muitas discussões com pensadores honestos nos ajudam a considerar o problema sob suas diversas facetas."Paul Robin

A fim de dar sequência a ess...e esforço acontecerá o Novembro Negro, evento de divulgação e debate de ideias anarquistas, dando ênfase à educação libertária. O evento acontece de 3 a 25 de Novembro e contará com debates, filmes e shows. Todas as atividades acontecerão na Faculdade de Educação da USP (campus Butantã - pegar qualquer ônibus para a USP e descer no 1º ponto da Cid. Universitária).Debates - 19h30 - Sala 124Filmes - 18h - Centro Acadêmico Professor Paulo FreireShows - 22h - você saberá onde é03/11 -

Debate 1 - Pedagogia Libertária, algumas experiênciasRaisa Guimarães -Graduanda de Pedagogia – UNIFESPO anarquismo apresenta-se principalmente como um movimento político quenasceu das classes menos favorecidas, econômica e politicamente, na Europa do séculoXVIII. E a representação máxima contra os aparelhos estatais e a Igreja visto por elescomo alienantes das massas e que por isso devem ser destruídos. Contudo paraconseguirem alcançar a revolução social com base na igualdade e liberdade, osanarquistas expressam de formar enfática numa transformação do ensino para ascrianças das classes populares, uma educação que não seja para formar mão-de-obra barata, mas uma educação revolucionária, emancipadora baseada no apoio mútuo,na co-educação de gêneros, na autogestão. Para aqueles que pensam que essas idéias eideais são apenas utopias não realizáveis, venho mostra-lhes algumas experiênciasestrangeiras e brasileiras de educação libertária.04/11 -

Filme 1 - A estratégia do caracol (1993 - Colômbia)Moradores da Casa Uribe, propriedade de Dr. Holguín, um jovem magnata, lutam contra as ameaças de desalojo. Defendendo o edifício contra juízes e policiais, planejam uma original estratégia, proposta por Dom Jacinto, um velho anarquista espanhol. A luta contra os especuladores parece estar perdida antes de começar, mas os vizinhos estão dispostos a fazer todo o possível para defender sua dignidade.09/11 -

Debate 2 - Espaços AutônomosBiblioteca Terra Livre e Ativismo ABCOs espaços autônomos se constituem desde o início do movimentoanarquista como espaços de encontro. Historicamente gruposanarcosindicalistas, centros de cultura e escolas libertárias seorganizavam no mesmo espaço físico. Na história recente do anarquismobrasileiro os espaços autônomos anarquistas tem desempenhado umimportante papel para o encontro e difusão de anarquistas.A Biblioteca Terra Livre (São Paulo) e o Coletivo Ativismo ABC (SantoAndré) trarão a experiência da vivência, da construção e manutençãodestes espaços ao longo dos últimos dez anos. Buscando debater sobre ocaráter educativo que tais iniciativas podem adquirir a partir daprática e experiência da manutenção de um local físico e permanente,de gestão e uso coletivo.10/11 -

Debate 3 - Autonomia Operária como pedagogiaPaulo V. Marques Dias - Doutorando em Estado, Sociedade e Educação pela FEUSP.Através de uma visita a teóricos heréticos dentro do marxismo, que se posicionavam contra o estatismo e a burocracia, podemos vislumbrar todo um universo teórico e conceitual muito útil às lutas sociais. No caso, trata-se da abordagem sobre a formação dos sujeitos feita dentro da perspectiva autonomista, que vai desde uma crítica da burocracia, do estado, da organização do trabalho na empresa e da estrutura hierarquica e fabril escolar, até uma crítica ampla da indústria cultural e dos lazeres programados como forma educativa do capital estabelecer seu controle social. Igualmente, esta análise não olha apenas para os mecanismos de dominação, mas considera a resistência espontânea e autônoma engendrada pelos trabalhadores dentro do processo, criando alternativas sociais de organização nova. Assim, a luta autônoma se transforma na pedagogia da geração da consciência através da luta social e no processo, dispensando formas de direção de consciência e adestramento dos indivíduos11/11 -

Filme 2 - Patagônia Rebelde (1974 - Argentina)A trama começa quando frente a situação econômica as sociedadas trabalhadoras de Puerto San Julián e Río Gallegos, afiliadas a chamada “FORA comunista”, dominada pelos anarcossindicalistas para distinguir-la da “FORA do 9º Congresso”, dominada pelos sindicalistas revolucionários, começam uma campanha de sindicalização de peões, esquiladores e outros assalariados, mas a resposta dos estancieros foi extremadamente dura: despedidos, violência, ameaças, a simples elaboração de petições por parte dos peões podia dar lugar a represalias. Esta conduta de intensificação do conflito que traria a rebelião dos trabalhadores contra os patrões e as instituições estatais.17/11 -

Debate 4 - Educação-Cultura e AnarquismoDoris Accioly - Professora da FEUSPA inseparabilidade educação-cultura na experiência anarquista, tendo como referência o movimento anarquista na Espanha e no Brasil, entre finais do século XIX e a década de 1930. O modo como os anarquistas fizeram sempre da cultura um ato pedagógico, educativo. Algumas concepções estéticas anarquistas , sublinhando sua singularidade frente a outras , inclusive relativamente ao campo político-social do que em geral se denomina esquerda.18/11 -

Filme 3 - Libertárias (1996 - Itália, Espanha e Bélgica)Em 18 de julho de 1936 o exército espanhol se rebela contra o Governo da República. Seis mulheres de origens e classes sociais diferentes se organizam em um grupo de anarquistas para lutar, de igual para igual com os homens, contra as tropas nacionais. Uma freira que descobre a solidariedade fora da fé, prostitutas, operárias, etc., unidas para defender seus ideais políticos e, ao mesmo tempo, fazer entender a seus companheiros as mudanças ideológicas e sociais pelas quais elas também almejam conquistar.23/11 -

Debate 5 - Autonomia e Conhecimento LivreBiblioteca Terra LivreA Biblioteca Terra Livre e Grupo de Estudos Educação e Anarquismopromoverão um debate sobre a experiência dos Grupos de Estudos e aimportância da Autonomia para a construção de um conhecimento livre elibertador. A intenção deste debate é compartilhar esta experiência deeducação libertária que já vem ocorrendo a um ano, na sede daBiblioteca, quinzenalmente. As leituras do grupo já passaram portextos clássicos do pensamento anarquista bem como pelas experiênciasde escolas anarquistas realizadas no Brasil e no mundo. O debate seráaberto a todos.24/11 -

Debate 6 - Pedagogia Libertária e construção da liberdade Silvio Gallo - Professor da FEUNICAMPQuando falamos em pedagogia libertária, pensamos logo em liberdade. A pedagogia libertária,sem dúvida, é uma prática de educação para a liberdade. Mas a questão é saber o que éliberdade. Não são poucos os conceitos de liberdade, mas podemos agrupá-los em duasgrandes linhas: aqueles que consideram a liberdade uma característica natural do indivíduo; eaqueles que pensam a liberdade como uma construção social, coletiva.No primeiro grupo, temos os filósofos liberais, como John Locke, Jean-Jacques Rousseau, porexemplo, que pensam a liberdade desde uma perspectiva individual. O caso de Rousseau éemblemático para a educação, uma vez que ele escreveu um tratado sobre como educar umindivíduo em liberdade, desde seu nascimento (Emílio, ou da Educação, publicado em 1762).Essa visão de liberdade está articulada com uma concepção individualista de sociedade.No outro grupo, podemos colocar filósofos anarquistas, como Pierre-Joseph Proudhon ouMikhail Bakunin, que se esforçaram por pensar a liberdade em uma outra direção, coletivistae não individualista. Eles defenderam que não faz o menor sentido pensar a liberdade comoatributo do indivíduo, pois não faz sentido dizer que alguém é livre quando vive sozinho. Sópodemos falar que somos livres quando vivemos com outros, em meio a outros e a liberdadedeles não é um impedimento para minha própria liberdade, mas sua confirmação. Em suaconcepção, a liberdade é uma coisa que se constrói coletivamente, em sociedade. Algo quenão nasce conosco, mas que precisamos aprender, conquistar e construir.Há escolas libertárias que se basearam nas ideias de Rousseau e sua proposta era a deeducar a criança partindo do princípio de que ela é livre desde que nasce. Mas outras escolaslibertárias, notadamente aquelas criadas por Paul Robin, por Sébastien Faure, por exemplo,esforçaram-se por pensar e praticar uma pedagogia que não parte da liberdade da criançacomo um dado, mas como algo que precisa ser construído. Essas escolas desenvolveram aideia de uma educação integral do indivíduo, na qual a construção da liberdade é uma espéciede aprendizado coletivo, que se faz no cotidiano das atividades na escola.25/11 -

Debate 7 - Ferrer y Guardia: Pedagogo e Anarquista - Laboratório de Estudos e Práticas da Autogestão (L.A.P.A.)
Francisco Ferrer y Guardia acreditava que uma proposta educativa deveria possibilitar a criticidade e criatividade dos educandos, por isso a educação não deveria estar presa a dogmas e a um Estado que pretende manter o sistema de dominação do homem pelo homem. Sendo assim, se fez necessário criar uma escola, que possibilitasse a educação integral para todas as crianças, independente de gênero, raça e classe social, pois todos os humanos devem conviver entre si como iguais, sendo capazes de como iguais, respeitar as diferenças, por isso Ferrer era contrário ao ensino ministrado pelo Estado e pela Igreja, pois o mesmo não tinha a devida preocupação com a formação do sujeito histórico critico, e sim cumpria a função social de formatar seres aptos a assumirem seus papeis previamente delimitados por sua classe social dentro do sistema social vigente.
25/11 - Show
Ordinária Hit (www.myspace.com/ordinaria)
Dischaos (www.myspace.com/dischaos)
Deturpados (www.myspace.com/deturpados)
LifeLifters (http://www.youtube.com/watch?v=DfNjyBm7SqE)
Revolta Popular (www.myspace.com/revoltapopular1500)
Invasores de Cérebros (www.myspace.com/invasoresdecerebros)
Todos os debates terão transmissão a vivo pela rádio cordel libertáriohttp://radiocordel-libertario.blogspot.com/2011/10/programacao-da-semana-0311-novembro.html?spref=fb

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mi abuela se fue



Meus caros, isso não é o uso pessoal de um espaço coletivo




sim, uma reflexão individual sobre algo humano




Hoje, minha querida avó materna se foi...




Apesar de não crer na morte, é inevitavel lembrar do tempo em que convivemos




Desde que nasci e todo tempo que passei no hospital, praticamente os 8 primeiros anos de minha vida, essa pessoa viajava horas pra cuidar de mim, me ensinava artes, literatura... sempre me escrevia postais... Nas férias do meio ou final do ano, era em sua casa que ficavamos, brincavamos e cresciamos... como pessoas envolvidas na fraternidade.




Especialmente a avó, por ser mulher... elo forte para sustentar as relações nas mais adversas situações em uma sociedade machista e hipócrita.




Nós temos frontais críticas a forma como se reproduz a família na sociedade capitalista, mas também não negamos as experiencias positivas que podemos tirar como lição em vários momentos de nossa vida.




Uma jovem vinda da cidade de Bias Fortes, interior de Minas Gerais, que por 74 anos esteve casada com meu avô, e nesse tempo nunca parou de trabalhar e viver com dignidade... representa com orgulho a força da mulher na superação de velhos ranços humanos, pautados por pequenesas e ignorancias, mesmo sendo quase iletrada... ela não é uma heroína, nem nunca quis ser... mas certamente contribui fortemente para modificar a visão das relações humanas de todos que a circundavam... inclusive deste que escreve.




Esse episódio ocorre em um momento turbulento da minha vida... acabo de ser pai de uma linda menina... Amélie, ... estou a muito tempo afastado de amigos que tanto gosto do convívio.. e ainda sem poder viver conforme gostaria... mas sempre renovando as forças naquilo que creio.




A imagem de meu avô olhando para seu corpo duro e frio sobre a cama e as várias lembranças das brincadeiras de infancia naquela casa, me fizeram cair em prantos como ha umas noites atras quando fui graciosamente lembrado por amigos que tanto amo...




Para mim, sua vida continua, pois a continuidade da existencia é uma prerrogativa histórica, mas isso é assunto a ser tratado mais pra frente... depois que o calor da emoção passar, e o coração deixar a tristeza de lado.




Um viva, e todos pensamentos e energias positivas a todos seres humanos que contribuem no que podem e como podem para mudar o mundo pela mudança das pessoas...




Obrigado vó Antonia..

sábado, 16 de julho de 2011

Da ignorancia popular e outras ignorancias




Não é necessário ser um especialista em política para entender que em linguagem corrente e popular, conceitos e categorias forjados à luz da sofisticação ideológica e teórica têm peso quase nulo. O que não significa assinar o atestado de ignorância do povo, mas bem o contrário: assinalar o grau de hermetismo muitas vezes assumido sem ressalvas ou cuidados pela academia e os intelectuais. Por outro lado, isso tão pouco significa que o debate popular é vazio e sem densidade, simplesmente por não utilizar, digamos, a gramática sancionada pelos intelectuais, sem prejuízo da presumida potencialidade da mesma.

Uma consequente antropologia do pensamento popular poderia nos dar mostras da profundidade e extensão de muitas concepções e visões de mundo presentes no meio popular, que justamente por ser anti-sistemática e não possuir um certo tipo de vocalização sacerdotal (ou seja, intelectuais promotores), se manifestam sem o tom lumininoso da legitimidade social. Um tipo de trabalho excepcional sobre o tema foi desenvolvido ao longo dos anos 1950 pelo argentino Rodolfo Kusch, e no Brasil pensadores como Guerreiro Ramos e Darcy Ribeiro chegaram a abrir veredas para a produção do que poderíamos chamar de uma verdadeira filosofia popular e descolonizada.

Claro que, em função das mais diversas dinâmicas de estratificação social e econômica que organizaram as mais distintas formas de sociedades conhecidas, culminando em uma tensão interna a praticamente quase todo tipo de vida social que passou a ser nomeado no Ocidente como “antagonismo de classe”, a produção social, econômica, e mais especialmente, cultural de uma época nunca foi homogênea ou representativa da totalidade do corpo social, sendo, na realidade, definida de forma mais ou menos grosseira, mas não menos verdadeira, pelas configurações históricas particulares da correlação “elite-povo”.

Quando remeto a configuração elite-povo basicamente quero indicar duas coisas: primeiro, a existência de um determinado grupo social que devido a certas vantagens/privilégios político-econômicos se apropria do excedente econômico (riqueza) produzido coletivamente. Segundo, a existência de um corpo político separado da sociedade que exerce delegativamente as prerrogativas da soberania popular, e por isso, se estabelece como autoridade política, ou melhor, “profissionais do poder”. A partir das consequências dessas divisões fundamentais, se manifesta essa divisão empírica e conhecida por nós entre elite e povo.
Os intelectuais e os artistas, como um grupo social distinto no interior dessa polarização social, como teria dito certa vez o sociólogo Pierre Bourdieu, estaria representado como “a fração dominada da classe dominante”. O que quer dizer isso? Que a eles cabe realizar a sistematização conceitual e conferir a legitimidade simbólica aos sistemas de pensamentos/valores vigentes como universais, quando na realidade, não passam da universalização de interesses particulares e específicos de setores dos grupos dominantes.

Um exemplo, aproveitando para fazer conexão com um artigo anteriormente publicado nessas páginas. O consumo de automóveis privados. A quem interesse a compra desses artefatos automotivos para uso privado? É possível que todos tenhamos nosso próprio automóvel na garagem, ou que realizemos num mesmo dia e horário um belo passeio de domingo pela praça da cidade? Não. Em oportunidade passada argumentei sobre os perigos sociais e ambientais do consumo de massas dos automóveis privados. E da necessidade de investimento público em formas alternativas e coletivas de transportes. Porque sim, doa a quem doer, o consumo de automóveis privados, convertidos em máximas de liberdade pós-moderna, em suposto fator de conforto e agilidade, interessa às grandes multinacionais que produzem isso a um custo social e ecológico absurdo. E se hoje lotamos as ruas da cidade com eles, é porque existe todo um séquito de lobbistas entre o planalto e o congresso pressionando por mais incentivos fiscais e flexibilização da legislação trabalhista.

Mas o espaço aqui lamentavelmente é curto para desenvolver mais essas idéias. Portanto retomo o fio central desse texto, a tão difundida noção de que o povo é ignorante, seja porque é iletrado, analfabeto, ou mais simplesmente, porque é pobre e pouco urbanizado. Assim, a defesa imediata de uma política massiva de educação da plebe aparece como a mais resoluta das panacéias, defendidas por toda ordem de tecnocratas de plantão (a “elite”, da esquerda à direita). A educação sim, é necessária, mas desarticulada da criação de espaços de participação onde o povo possa criar livremente novas modalidades de produção econômica (para poder trabalhar para si, e não se alienar para outro), e sem sua inserção concreta na vida política, através de mecanismos onde ele possa definir aquelas regras coletivas sobre as quais ele nunca foi mais do que estatística para sofrê-las, será sempre meramente incipiente e cosmética.

O FOGO E A PALAVRA: A UTOPIA ZAPATISTA EM CENA




“Pero nada pueden bombas, donde sobra corazón”
(Ay Carmela! – Canção popularizada durante a Guerra Civil Espanhola, 1936-1939)




Não é muito fácil fugir da imagem generalizada, dentro e fora dos círculos de esquerda, de que os anos 1990 passaram como uma nuvem cinza acobertando nossas cabeças com certo sentimento de derrota. Os processos sociais e políticos que culminaram com a dissolução da URSS e a queda do muro de Berlim apontavam para um horizonte de crise para todo projeto de emancipação social que tivesse como meta a transformação do mundo capitalista.

A esquerda e os movimentos sociais informados pelo marxismo, ou pelo menos a ortodoxia marxista, sofrera um poderoso golpe. E junto a eles, graças ao esforço sistemático dos ideólogos da economia de mercado e das agências de comunicação cartelizadas em desacreditar as “utopias”, atiravam a criança junto com a água suja: sindicatos, movimentos de trabalhadores, exploração, mais-valia, luta de classes, em suma, uma gramática que informava uma dada realidade sócio-histórica fora desacreditada juntamente com toda luta política e social que se erigisse sob ela. Isso explica em parte o sucesso da onda liberalizante furiosa dos anos 90. Pelo menos, o clima fora criado.

Porém, é no mínino estupidificante crer que, como gostariam os arautos da assim chamada “nova ordem econômica mundial”, a crise do socialismo soviético, ou da ortodoxia marxista-leninista, implicasse necessariamente em uma crise de todas as formas de lutas e aspirações de caráter anticapitalista. Entre a miopia ideológica e a ingenuidade estrategicamente insinuada nos deparamos invariavelmente com os inesperados e tortuosos buracos da história, a “velha toupeira”, para aludir a uma metáfora marxiana muito cara à Rosa Luxemburgo. E assim presenciamos, em pleno 1994 neoliberal, o aparecimento público da guerrilha zapatista no México. E ao longo dos anos noventa, sinais de pelo menos outros dez grupos guerrilheiros no país.

Em 1991 o México realizou uma reforma da sua constituição, especialmente em seu artigo 27, que trata da questão fundiária, tendo em vista criar condições jurídicas e institucionais para que os camponeses pudessem vender ou alienar suas terras. Tudo isso no clima de celebração do ingresso do país no Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN), celebrado juntamente com os EUA e o Canadá. Quem em algum momento teve a oportunidade de ler sobre a história das lutas campesinas no México sabe que naquele país ocorreu uma revolução no princípio do século XX que animou um dos processos mais radicais de reforma agrária do continente americano. Assim, na esteira dessa “tradição” revolucionária e de suas heranças agraristas, em 1º de janeiro de 1994, dia em que formalmente o México passara a fazer parte do TLCAN, dezenas de milhares de camponeses e indígenas organizados em torno do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) deflagraram guerra ao governo federal, levantando-se no estado de Chiapas, sul do país.

O EZLN se constituiu como um grupo guerrilheiro em 1983, alimentado pelo marxismo-leninismo e pelo maoísmo, se organizando entre populações indígenas e camponesas em torno do objetivo da revolução socialista no México. O levante armado de 1994 durou apenas alguns dias. Em pouco tempo a sociedade civil mexicana manifestou-se contra a guerra e pressionou o governo a dialogar com o grupo insurrecto. Assim começava a longa jornada do grupo guerrilheiro, que em pouco tempo se converteu em uma das forças políticas radicais mais criativas e visíveis do mundo. O EZLN revelou-se habilidoso em utilizar-se de todos os recursos disponíveis para seguir a sua luta em variadas frentes, especialmente o combate comunicacional através das mídias emergentes, como a internet.

O EZLN, assim, abdica da idéia de tomar o poder realizando um assalto ao aparato de Estado, e reconfigura-se a partir do princípio da produção e organização da autonomia popular indígena, e assim, construir “um mundo onde caibam outros mundos”. A resistência assume a dianteira frente à ofensiva. O exército zapatista se converte em grupo armado de autodefesa, protegendo as comunidades indígenas e campesinas chiapanecas. A dimensão étnica ganha novos contornos e auxilia no reagrupamento das estratégias de luta dos zapatistas.

A condução da “ciberguerrilha”, e a boa interlocução com a sociedade civil nacional e internacional ajudaram o EZLN a negociar com o governo em 1995 uma lei de anistia, que conferiu aos zapatistas o estatuto de cidadãos rebeldes, ao lugar de subversivos insurgentes, ao mesmo tempo que garantia um espaço de diálogo com membros do governo para negociar as condições da paz em Chiapas, como os conhecidos Diálogos de San Cristobal e os Diálogos de San Andrés. Aqui os zapatistas puderam fazer uso da palavra e apresentar formalmente ao governo mexicano e a sociedade civil suas principais demandas: a modificação das alterações feitas no artigo 27 da constituição, criação de mecanismos de controle popular sobre os recursos naturais, a realização de reformas legais e constitucionais visando ampliar a participação e a representação política local e nacional dos povos indígenas, a conformando um novo federalismo, a garantia do acesso pleno dos povos indígenas aos instrumentos jurídicos do Estado, e sua utilização levando em conta as suas especificidades culturais e seus sistemas normativos internos. O cerne do problema foi que o governo, reconhecendo publicamente a justeza da causa zapatista e subescrevendo a necessidade de implementação de suas reivindicações, jamais cumpriu os acordos.

A traição por parte do governo levou os rebeldes a firmarem-se contundentemente na estratégia da resistência, agora mais legitimada ainda pelo reconhecimento estatal da causa indígena e camponesa. A luta pela autonomia se constituiu, portanto, na mais imediata tarefa do EZLN, com a transformação do espaço insurgente em território liberado. Com o levante, os rebeldes haviam tomado controle de uma parte substantiva do território chiapaneco, quase metade de sua extensão, proclamando o nascimento dos seus 38 municípios autônomos rebeldes zapatistas (os MAREZ, como passaram a ser conhecidos). E foi precisamente ali, no interior dos Marez, o laboratório de experiência zapatista do seu projeto de autonomia: a condução do autogoverno.

O autogoverno representa a mais livre e manifesta concretização das aspirações de autodeterminação procurada pelos povos indígenas chiapanecos, articulada e re-semantizada ao lado do que há de mais moderno e liberatório nos projetos republicanos de democracia radical. Em outras palavras, as vicissitudes e particularidades da luta política revolucionária no México levaram os zapatistas, mediante a necessidade de resistência, a construção das condições de possibilidade para a realização do seu projeto de emancipação de imediato, e ainda que lançando as bases para alguma movimentação muito maior e mais ousada, estão colocando a utopia a prova: nem os falanstérios de Fourier, muito menos a Comuna de Paris, chegou a cruzar o período de uma década!

É claro que as dificuldades e os obstáculos se avolumam com o tempo. Se o governo reconhece a legitimidade da causa zapatista, por um lado, por outro prossegue enviando grandes contingentes de militares para o estado de Chiapas e aprisionando arbitrariamente lideranças populares, além de armar grupos paramilitares com o intuito de minar as forças zapatistas. Assim, a chamada “guerra de baixa intensidade” está em curso em Chiapas.

domingo, 1 de maio de 2011

Poema ao Primeiro de Maio

1° de Maio,
do sol vê-se o raio
arauto da vida,
bandeira estendida,
com a negra divisa
que o povo organiza.
Um mundo de amor
que extingue o opressor,
termina com a guerra,
socorre a terra
da morte eminente
sob a forma doente
do mal capital,
que recebe o aval
dos vampiros sedentos
pelos jovens rebentos,
sacrificados no rito,
trabalhando ao apito
que aciona à alvorada,
e ao fim da jornada,
quando o sol já se pôs.
E a um barraco depois
seguem rumo inseguro,
um caminho escuro
onde esperam soldados
por patrões ordenados.

Mas alguns não arreiam,
e indignados semeiam
nos tijolos pioneiros,
de corpos guerreiros,
a justiça que escavam,
e os braços trabalham
no levante da massa
em defesa da causa.
Frutificai do martírio
nos campos ó Lírio,
pois em vão não partiram
e com gloria caíram
em Chicago a tiros,
misturados aos gritos.
Foram com dignidade
com firmeza e coragem,
pois naqueles valentes
os cães obedientes
dispararam com fúria.
Mas para além da penúria
seus irmãos solidários,
não mais solitários,
organizavam mais firmes
suas marchas sublimes,
da redenção o ensaio:
O 1° de Maio.

- - -

Jaguarape


Em homenagem aos que tanto lutaram por uma sociedade mais justa e igualitáia, e aos que continuam lutando.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Entrevista Noam Chomsky

Chomsky: EUA estão seguindo seu manual no Egito

Em entrevista a Amy Goodman, do Democracy Now, Noam Chomsky analisa o desenrolar dos protestos no Egito e o comportamento do governo dos Estados Unidos diante deles. Na sua avaliação, o governo Obama está seguindo o manual tradicional de Washington nestas situações: "Há uma rotina padrão nestes casos: seguir apoiando o tempo que for possível e se ele se tornar insustentável – especialmente se o exército mudar de lado – dar um giro de 180 graus e dizer que sempre estiveram do lado do povo, apagar o passado e depois fazer todas as manobras necessárias para restaurar o velho sistema, mas com um novo nome".

Nas últimas semanas, os levantes populares ocorridos no mundo árabe provocaram a destituição do ditador Zine El Abidine Bem Ali, o iminente fim do regime do presidente egípcio Hosni Mubarak, a nomeação de um novo governo na Jordânia e a promessa do ditador de tantos anos do Yemen de abandonar o cargo ao final de seu mandato. O Democracy Now falou com o professor do MIT, Noam Chomsky, acerca do que isso significa para o futuro do Oriente Médio e da política externa dos EUA na região. Indagado sobre os recentes comentários do presidente Obama sobre Mubarak, Chomsky disse: “Obama foi muito cuidadoso para não dizer nada; está fazendo o que os líderes estadunidenses fazem habitualmente quando um de seus ditadores favoritos têm problemas, tentam apoiá-lo até o final. Se a situação chega a um ponto insustentável, mudam de lado”.

Amy Goodman: Qual é sua análise sobre o que está acontecendo e como pode repercutir no Oriente Médio?

Noam Chomsky: Em primeiro lugar, o que está ocorrendo é espetacular. A coragem, a determinação e o compromisso dos manifestantes merecem destaque, E, aconteça o que aconteça, estes são momentos que não serão esquecidos e que seguramente terão consequências a posteriori: constrangeram a polícia, tomaram a praça Tahrir e permaneceram ali apesar dos grupos mafiosos de Mubarak. O governo organizou esses bandos para tratar de expulsar os manifestantes ou para gerar uma situação na qual o exército pode dizer que teve que intervir para restaurar a ordem e depois, talvez, instaurar algum governo militar. É muito difícil prever o que vai acontecer.

Os Estados Unidos estão seguindo seu manual habitual. Não é a primeira vez que um ditador “próximo” perde o controle ou está em risco de perdê-lo. Há uma rotina padrão nestes casos: seguir apoiando o tempo que for possível e se ele se tornar insustentável – especialmente se o exército mudar de lado – dar um giro de 180 graus e dizer que sempre estiveram do lado do povo, apagar o passado e depois fazer todas as manobras necessárias para restaurar o velho sistema, mas com um novo nome.

Presumo que é isso que está ocorrendo agora. Estão vendo se Mubarak pode ficar. Se não aguentar, colocarão em prática o manual.

Amy Goodman: Qual sua opinião sobre o apelo de Obama para que se inicie a transição no Egito?

Noam Chomsky: Curiosamente, Obama não disse nada. Mubarak também estaria de acordo com a necessidade de haver uma transição ordenada. Um novo gabinete, alguns arranjos menores na ordem constitucional, isso não é nada. Está fazendo o que os líderes norteamericanos geralmente fazem.

Os Estados Unidos tem um poder constrangedor neste caso. O Egito é o segundo país que mais recebe ajuda militar e econômica de Washington. Israel é o primeiro. O mesmo Obama já se mostrou muito favorável a Mubarak. No famoso discurso do Cairo, o presidente estadunidense disse: “Mubarak é um bom homem. Ele fez coisas boas. Manteve a estabilidade. Seguiremos o apoiando porque é um amigo”.

Mubarak é um dos ditadores mais brutais do mundo. Não sei como, depois disso, alguém pode seguir levando a sério os comentários de Obama sobre os direitos humanos. Mas o apoio tem sido muito grande. Os aviões que estão sobrevoando a praça Tahrir são, certamente, estadunidenses. Os EUA representam o principal sustentáculo do regime egípcio. Não é como na Tunísia, onde o principal apoio era da França. Os EUA são os principais culpados no Egito, junto com Israel e a Arábia Saudita. Foram estes países que prestaram apoio ao regime de Mubarak. De fato, os israelenses estavam furiosos porque Obama não sustentou mais firmemente seu amigo Mubarak.

Amy Goodman: O que significam todas essas revoltas no mundo árabe?

Noam Chomsky: Este é o levante regional mais surpreendente do qual tenho memória. Às vezes fazem comparações com o que ocorreu no leste europeu, mas não é comparável. Ninguém sabe quais serão as consequências desses levantes. Os problemas pelos quais os manifestantes protestam vem de longa data e não serão resolvidos facilmente. Há uma grande pobreza, repressão, falta de democracia e também de desenvolvimento. O Egito e outros países da região recém passaram pelo período neoliberal, que trouxe crescimento nos papéis junto com as consequências habituais: uma alta concentração da riqueza e dos privilégios, um empobrecimento e uma paralisia da maioria da população. E isso não se muda facilmente.

Amy Goodman: Você crê que há alguma relação direta entre esses levantes e os vazamentos de Wikileaks?

Noam Chomsky: Na verdade, a questão é que Wikileaks não nos disse nada novo. Nos deu a confirmação para nossas razoáveis conjecturas.

Amy Goodman: O que acontecerá com a Jordânia?

Noam Chomsky: Na Jordânia, recém mudaram o primeiro ministro. Ele foi substituído por um ex-general que parece ser moderadamente popular, ou ao menos não é tão odiado pela população. Mas essencialmente não mudou nada.


Retirada http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17391


Nessa outra entrevista ele fala sobre a intervenção na Lybia.


http://www.youtube.com/watch?v=Xq5KOl9PD98

terça-feira, 22 de março de 2011

Só Para Constar

Pensei postar um videozinho que fala da farsa eleitoral que vemos seguidamente acontecer; Essa semana estamos tendo que ''encarar'' processos eleitorais de consulta ao MEC na nossa universidade. Além de ser um período super escroto para estar acontecendo qualquer coisa, vemos imbecilidades ao pensar em disputar tal processo, deixando como secundário a denúncia de quanto é inútil, mentiroso e independente de quem seja eleito só irá representar os interesses de uma minoria.