Sobre o LAPA

O LAPA (Laboratório de Estudos e Práticas da Autogestão), muito modestamente, se propõe como um pequeno círculo de amigo(a)s e camaradas que possuem vínculos, afinidades, afetos e interesses em comum em torno do tema da auto-organização popular, talvez, como uma via possível para a emancipação de todos os subalternos e trabalhadores. Assim, é uma aposta simultânea na amizade e na revolução.

Por hora, o LAPA não se constitui como um coletivo, uma entidade ou uma organização, ainda que em potecial possa vir a ser isso ou outras coisas que nem sequer imaginamos. Como círculo, temos vínculos que nos unem para além do espaço que nos separa. Os estudos e ações que compartilharemos como círculo pode inclusive dar fôlego e alento para a formação e/ou consolidação de iniciativas coletivas e/ou individuais, nos mais distintos lugares onde nos situamos como vizinhos, estudantes, trabalhadores, etc.

A idéia de Laboratório, até agora sugerida, nasce como uma metáfora que se orienta pela dimensão experimentalista que carrega todo laboratório – e isso nos interessa particularmente, experimentar idéias e práticas, aprender e se apropriar do melhor dos processos políticos e sociais dos mais diversos movimentos de liberação que se levantaram contra todas as ordens e esquemas de dominação (inclusive os de esquerda). E mais: nosso laboratório é de bolso, se materializa e desmaterializa segundo determinadas condições ambientais e temperamentais, e talvez seremos muito mais tomados e possuídos pelas experiências do que a dissecaremos e a controlaremos, ao contrário do que ocorre com os homens-de-guarda-pó.

E se nos lançaremos a estudar e praticar a autogestão é porque ela todavia nos parece ser a melhor forma encontrada pelos dominados até hoje para que a terra, os meios de produção, o trabalho e a política (com ou sem o Estado) não se converta em monopólio e privilégio de uns poucos, e logo, instrumento de dominação, opressão e submissão de classe, casta, grupos ou camarilhas. E para isso é importante que nos alimentemos das teorias e narrativas que fundaram a autogestão como um princípio político, e que transcende, aliás, muitos projetos políticos ou ideologias (como o anarquismo e o comunismo); e ao mesmo tempo buscar compreender os caminhos e as vicissitudes das experiências de autogestão que tiveram curso, especialmente, na história moderna.



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Escuta, Zé Mané!


“Te chamam homem comum, homem médio, homenzinho...” assim começa o texto escrito por Paulo César Peréio, para a peça Escuta, Zé Mané! a partir do texto de Wilhelm Reich no livro Escuta, Zé ninguém! A peça tem a participação de Paulo César Peréio, João Velho e Neca Zarvos, com produção executiva de Lara Velho e a cuidadosa direção de Lenerson Polonini. Com sua temporada encerrada no Rio de Janeiro, possivelmente irá pousar nas montanhas de minas em Belo Horizonte.
Escuta, Zé Mané! é uma livre releitura das idéias de Wilhelm Reich por Paulo César Peréio, incorporando-as à sua própria personalidade e reafirmando seu potencial como ator performer, numa simbiose cultural das mais afinadas entre autor e ator. Em um tom de comédia política, a peça é um esporro no sociedade contemporânea, onde as fundamentações históricas são contextualizadas a episódios e realidades nacional e local, trazendo a tona problematizações que permeiam o individuo, a sociedade, a política e a sexualidade. Evidente que todos esses aspectos se articulam e se interpenetram no texto. O tom agudo no sarcasmo faz muitas vezes os expectadores menos atentos acreditarem que se trata de uma superficial e cômica banalização de episódios cotidianos. Para os defensores da cartilha marxista da revolução as reflexões podem ser válidas, caso superem a cegueira dogmática. Evidente que Reich não deposita toda culpa nem toda solução no indivíduo, mas a peça é sem dúvida um grande puxão de orelhas em todo indivíduo que de uma forma ou de outra se tornam reféns e submissos aos ditamos de um grupo ou outro, seja ele de direita ou de esquerda. Wilhelm Reich (1897-1957) era psiquiatra, escritor e filósofo, austríaco, foi discípulo de Freud e membro da Sociedade Psicanalítica. Suas idéias revolucionárias causaram muita polemica. Reich buscava a compreensão da natureza humana por meio das funções sexuais. Ele acreditava que a energia sexual, em sua versão reprimida, geraria uma espécie de couraça que impossibilitava a expressão direta da espontaneidade. Desta forma, essa condição passava a ser geradora de sintomas neuróticos, como fobias, angústias, depressão, ansiedade, incompetências e impotência criativa, sexual e afetiva. Reich pregava a transformação revolucionária da política do cotidiano como sendo o grande instrumento de luta. Acreditava que quando cada pessoa consciente assumisse, no dia a dia, a responsabilidade e a ação em defesa do seu ser biológico e natural, é que os ideais libertários poderiam tornar-se realidade.
A inquietação, o questionamento e a vontade de mudar o estabelecido são as energias motrizes bem pautadas na peça e que articulam todo o texto. Os atores se alternam no texto e interagem com o público, criando uma esfera bem favorável, muito em função do viés do humor, de reflexões por parte das pessoas em torno das questões levantadas.
Como e quanto somos machistas, homofóbicos, individualistas, submissos aos ditames de algo ou alguém intocável? Todas essas questões perpassam pela peça, fazendo com que os expectadores reflitam em torno de sua postura diante de tais circunstancias. A dimensão espacial e o jogo de luzes que proporcionava uma profundidade do palco, dando uma nítida impressão que estávamos nós falando com nossa própria consciência, mas que a muito não o fazemos. Do figurino a atitude dos atores, chocar o que é tido como natural é a força motriz para fazer o indivíduo sair da sua pobre comodidade comprada ao preço de sua própria existência.
De todo modo o que nos mais chama a atenção é o fato de que a mudança da sociedade não está somente vinculada ao fator econômico, e que certamente o conhecimento de si mesmo e das suas potencialidades e possibilidades é sem dúvida nenhuma uma força motriz para a contestação da realidade e a ação direta para sua superação.
Espero que essa peça possa se espalhar por todo país, levando a mais e mais pessoas essas reflexões que contribuam para sua auto-libertação e conseqüente emancipação.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

ERRICO MALATESTA


´´As sociedades humanas nao podem ser criação artificial de um só homem ou de uma unica seita, se quisermos que sejam a vida em comum de homens livres que cooperam para o bem maior de todos. Nada que venha dos conventos ou de autoridades despóticas sustentadas por uma supertição religiosa ou pela força bruta. Elas devem ser decorrencia das necessidades e das vontades, convergentes ou divergentes, de todos os seus membros que, fazendo e refazendo a tentativa, encontrem as instituições que, em um dado momento, sejam as melhores possivéis, as desenvolvam e as modifiquem na medida em que mudem as circustancias e as vontades. Pode-se, pois, prefirir o comunismo, o individualismo ou o coletivismo, ou qulquer outro sistema imaginável e trabalhar, pela propaganda e o exemplo, para o triunfo destas aspirações, contudo é necessarop precaver-se, sob pena de de um desastre iminente, de pretender que seu proprio sistema seja o unico sistema infalivel, valido para todos os homens em todos os lugares e em todos os tempos, e de que é preciso, a qualquer preço, garantir seu sucesso por meios que não sejam a persuasão que nasce da evidencia dos fatos. Garantir a todos os meios de que os homens sejam livres: eis o que importa, o que é insdispensavel, a base de tudo. ``





´´Aquele que pode adaptar-se e viver contente entre escravos e tirar proveito do trabalho de escravos é e não pode ser anarquista``


´´É Anarquista, por definição, aquele que não quer ser nem oprimido nem opressor, aquele que quer o máximo de bem-estar, o máximo de liberdade, o maior desenvolvimento possivél para todos os seres humanos``

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Alguns dia num assentamento do MST

Minha viagem de ida à volta daquilo que nunca deveria ter deixado começa hoje (08/12/2009). Ao reencontrar o povo que marcha em fileira, que luta dioturnamente contra todas as adversidades, materiais e imateriais, e ainda assim leva no coração o amor ao próximo, na visão clara e concreta da possibilidade e necessidade de construir outra sociedade, diametralmente antagônica a essa existente. Inevitável a aproximação e a imediata sintonia. Eles que estavam cá temporariamente, se formando em saúde ambiental, oriundos de 13 estados desse país que, a contra gosto de muitos é latino americano. Agradecer a existência desse movimento aparentemente pode parecer historicamente anti-dialético, afinal, em verdade queremos que esse movimento deixe de existir na sua conformação atual a partir do momento em que seus/nossos objetivos forem alcançados. Mas o alento e a vibração para a existência que é proporcionada pelo fato de estarmos juntos hoje, na mesma luta, o mínimo que se faz é agradecer. Certamente temos muitas formas de agradecer. Há dois dias atrás tinhas escrito em minhas anotações diárias de tarefas, arrumar uma passagem para um lugar bem longe de tudo e todos que tenho convivido. Ao conhecê-los melhor no pouco trabalho que pude ajudar, pude conhecer pessoas doces e guerreiras, delicadas e agudas, carinhosas e vigorosas, das quais pude conversar a vontade sobre minhas necessidades e anseios, e o quão o meu retorno, mesmo que temporário seria salutar para mim. Havia a possibilidade de retornar ao assentamento onde fiz meu estagio interdisciplinar de vivencia, no vale do Jequitinhonha, mas eis que surge a jovem Joelma, residente do assentamento resistência, que, após ouvir minhas solicitações, se dispôs a me receber junto ao seu coletivo de militantes, na cidade de Funilandia.
Muito tempo depois (duas semanas), não tendo resposta dos meus queridos camaradas do assentamento, resolvi ligar para ter uma posição da possibilidade ou não da minha ida e permanecia junto aos lutadores do Brasil. A mãe de Joelma me atendeu em solicitou para eu ligar mais tarde. Feito isso, retornei a ligação e falei diretamente com Joelma, que me disse que poderia ir sem problemas. O entusiasmo tomou conta de mim, em poder reviver, de maneira diferente, com outras pessoas, tudo o que de melhor tinha vivido tudo o que de melhor tinha vivido na minha vida até o presente momento. Imediatamente verifiquei os preços de passagens, e consegui uma passagem aérea bem barata. Como tinha ido um dia à praia vermelha para resolver problemas do mestrado, resolvi passar o shopping para compra de uma vez minha passagem. Para minha surpresa (ainda me surpreendo com os capitalistas) a agencia cobrava 30 pratas só pra vender a passagem. Como sou ainda jovem e bem disposto, resolvi ir andando até o aeroporto Santos Dumont, o que me tomou uma hora de caminhada, que, dizem que faz bem a saúde. Mais uma vez, para minha surpresa (incrível minha inocência às vezes, ou quase sempre) no guichê da empresa, eles também me cobraram 30 pratas para vender a passagem. Solicitei gentilmente um esclarecimento à atendente, que me disse que o preço da internet, só era valido para compras pela internet, que só se faz com cartão de crédito, que não é o meu caso. Enfim, ainda pedi um desconto pela caminhada, o que foi entendido como uma piada e desconsiderado. Com tudo resolvido para minha ida, nada melhor que reencontrar os lutadores do movimento numa confraternização de fim de ano; isso me fez reafirmar que sou MST, e isso é uma identidade que não dá pra desconstruir objetivamente. Muitas conversas, produtivas ou não, e estou voltando a me inserir no movimento, onde me sinto plenamente consciente da minha existência. Feliz e mais lúcido do que devo fazer, conto os dias até a viajem. O início dessa viajem hoje, que na verdade não é o primeiro dia, pois tudo começou há um tempo atrás, foi bem corrida e cansativa, visto que do dia 21 para o dia 22 não dormi, pois estava em Juiz de Fora, e iria pegar o ônibus para o rio as 2h da manhã. Tinha ainda que arrumar minhas coisas para a viajem. Comecei a ficar mais ansioso para viajar e não demorou muito parti para o aeroporto com apenas uma mochila. No check-in a funcionária me pergunta se possuo algo cortante ou perfurante (...) uma breve reflexão com meus pensamentos e digo que certamente minhas idéias e palavras tem sido bem cortantes. Ainda na fila do embarque encontro uma companheira do coletivo de saúde do rio, Letícia, e aí podemos passar a viagem conversando, o que foi muito agradável. Ao chegar o aeroporto de Confins, demos a sorte de o ônibus que ai para a rodoviária estava de saída. Fomos juntos, dormindo praticamente todo o trajeto. Ao chegar na rodoviária fui procurar um tipo de táxi, que faz viagens para cidades próximas. Essa dica foi dada pela Joelma, e foi muito bem vinda, afinal a fila da empresa de ônibus estava quilométrica. Em 50 minutos já estava em Sete Lagoas. Mais uma vez estava com sorte e tinha um ônibus saindo pra Baldin, que passava perto do assentamento. Coincidentemente, ainda dentro de Sete Lagoas, em frente à sede da empresa de ônibus, encontrei com Joelma e sua prima Damiana (também conhecida como Mil). Foi bom, pois combinamos o local de encontro; o local marcado foi à sede do conjunto João Pinheiro. Lá conheci outros moradores do assentamento (Mel, que dava aulas de esportes para as crianças, baiano e baú). As compras da sede foram empilhadas em uma moto, nós fomos caminhando. Pelo caminho de terra, a diferença do ar, do visual e especialmente do estado de espírito são notórios. O crepúsculo fora das cinzentas cidades é algo extraordinário da natureza. No caminho, Joelma, mil e eu conversamos sobre várias coisas e paramos para pegar uma sacola de mangas muito doces. Ao chegar no assentamento, conheci a mãe e o pai de Joelma, os três filhos de mil (Pedro, Marcos e Júlio), as sobrinhas de Joelma (Thauane e Carol). Após tomar um café na sua casa, fiquei brincando de bola com Pedro e com Henrique; depois ensinei uns truqueis no ioiô. Suamos um pouco e ficamos conversando sentados em frente à igreja, escutando as muitas histórias de Pedrinho (ele fisicamente é o esteriótipo das pinturas angelicais; loirinho com caixinhos e olhos azuis); fiquei ainda observando uma pequena árvore onde as galinhas e os pintinhos se empuleram para dormir.
Joelma juntamente com Alan, Thalita e Priscila estavam ensaiando coreografias para uma confraternização de fim de ano. Uma delas ainda não estava pronta, e contribuí com algumas idéias. O bom de tudo foi que nos divertimos muito construindo tudo coletivamente. As crianças brincando em volta e o tempo voa. A janta já está pronta e enquanto fazia minhas anotações tive a camisa toda suja de lama pelo cachorro nicos que subiu em cima de mim me lambendo o rosto. Antes da janta, o banho. Não há chuveiro com água encanada e, evidentemente água quente. Bem, para mim não é muito problema, afinal só tomo banho gelado. Existe uma cozinha externa a casa, com fogão a lenha, onde fica um grande latão de água quente. Enchendo o balde com ela, levamos até o banheiro e enchemos um outro balde suspenso com uma torneira e uma saída de água em formato de ducha; misturamos com água fria e assim nos banhamos. Todos cheirosos, comemos uma comida caseira muito gostosa assistindo TV. Em seguida todos escoando os dentes e fui contar história para Thauane e Carol na cama de Joelma e fomos dormir.
A noite anterior foi bem fresca, um friozinho típico da noite do campo, e dormi muito bem. Como ainda era considerado visita, pude dormir até as 9h. Logo que acordei pude tomar café com queijo e biscoito. Parti para ajudar a mãe de Joelma a limpar o quintal, passando o rastelo em tudo. Em seguida fui molhar as plantas junto com Carol. Joelma então começa a arrumar a igreja, pois os materiais para construção das casas estavam todos armazenados lá. Em anexo à igreja havia um convento, onde agora a proposta é revitalizar o local e fazer de alojamento. Limpamos uma dessas saletas, onde havia ainda muito pó de cimento e guardamos lá o restante do material das obras. Envolvemos as crianças no processo de limpeza,ora ajudando a varrer, ora limpando os quadros e imagens santas. Limpamos todo o salão principal, lavamos e esfregamos com água e sabão. Marcos, filho de mil de dois anos, sempre chorava quando escorregava e caia de bunda no chão, mesmo assim continuava a passar o rodo. A fachada e a frente da igreja também foram limpos; além dos vitrais frontais e laterais. Dona Rosa trazia os baldes de água e juntos fizemos uma boa limpeza. Ficamos toda manhã limpando, as crianças ajudaram muito (Pedro, Carol, Thauane, Marcos, Ritiele) e já estava na hora do almoço. Não posso esquecer da significativa ajuda de mil. Fomos almoçar uma farta comida (arroz, feijão, lingüiça com batata e farinha de mandioca). Almoçamos e conversamos, vimos o filme do curso de saúde ambiental que Joelma fez. Após o belo almoço, bateu aquela lombeira e o coxilo foi inevitável. Quando acordei fui estudar um pouco e fazer meus registros; assistindo a uma cena que tentei desenhar certamente não conseguindo reproduzir tudo na ilustração. É sempre bom relembrar que o mais importante a meu juízo não é a escrita ou leitura dos fatos descritos, e sim toda a reflexão teórica, refeita sempre a partir da vivencia prática que, se faz totalmente diferente nesta forma de organização social. Passei boa parte da tarde lendo; mudei de lugar algumas vezes para ler; um deles foi em cima de uma árvore. Em dado momento percebo que o pequeno Júlio carregava uma pequena escada e começou a subir até onde eu estava e lá ficamos um bom tempo. Hoje conheci Tião, da coordenação regional do movimento e trocamos dois dedos de prosa. Durante a tarde, algumas crianças brincavam de bola, outras de balanço; uns jovens tocavam violão e cantavam; outros estendiam roupas no varal e arrumavam suas casas. Quando o pai e a mãe de Joelma voltaram, ajudei a descarregar a carroça cheia de lenha. Na varanda da casa de Joelma, algumas mulheres tiravam a sombraçelha, outras pintavam o cabelo ou as unhas e parei ali para conversar um pouco. Fui convidado por dona Rosa para o casamento de sua filha que acontecerá no dia 26. A noite vai caindo e fico assistindo um pouco de TV com Carol e Thauane. Fui buscar minha água para o banho e em seguida fiz uma boa janta. Conversei com Joelma sobre a possibilidade de ela me apresentar o restante do assentamento nos próximos dias. Ainda nessa noite terminei a leitura de um livro. O ambiente é totalmente favorável ao estudo.
Na manhã seguinte fomos acordados por várias pessoas que são parentes de assentados e chegavam para as festividades de fim de ano. Tão logo levantei, fui designado pelo Tião para capinar o campo de futebol e a beira da estrada. O mato muito denso que quase sempre cobria toda minha visão. Utilizei uma máquina de cortar grama, mas mesmo assim é um trabalho muito extenuante. O sol castiga muito e o trabalho se torna mais difícil dado o terreno acidentado. Nunca foi tão bom parar o trabalho para prosear um pouco. A minha falta de costume me fez requer muita água e a menina Carol veio com uma garrafa pet cheia de água fresca. Após um bom tempo trabalhando, um senhor chega com outra máquina para me ajudar; fato que não foi possível visto que o óleo havia acabado. Trabalhei um tanque e meio e fiquei exausto. Durante minha jornada, que foi até o almoço, percebi um bom número de jovens e adultos sem fazer nada, apenas jogando conversa fora. Eu passei por eles e nenhuma reação, e isso me deixou bastante incomodado. Fui até o tanque lavar minha camisa e me limpar dos respingos de mato, além de me refrescar. Em seguida fui comer na companhia de Joelma sentado a beira da cozinha. Conversamos sobre os problemas do assentamento, em especial no que tange aos trabalhos coletivos. Joelma relata que o processo após a oficialização/legalização pelo INCRA das terras, as práticas coletivas ficaram seriamente comprometidas; chegando ao ponto de um esvaziamento até das reuniões de direção. Parece haver uma dicotomia das práticas quando é acampamento para quando é assentamento; ou ainda uma similaridade em acampamento e os primeiros anos de assentamento. Isso me fez refletir sobre a questão da construção da subjetividade, da consciência, tanto a nível individual quanto coletivo. Há muitas vezes uma hiper-valorização da questão objetiva, estrutural. E, de forma bem avançada, essas questões já estão dadas nesse assentamento, mas ainda assim persistem esses problemas, mesmo sendo esse um espaço de uma proposta diferenciada. É o fato que a consciência não se muda do dia pra noite, mas é tão certo também que é o meio material que determina a formação da consciência, e, certamete a postura dos jovens e adultos não contribui para o processo de formação dos mais jovens e das crianças, no processo de construção da personalidade e da consciência, na concretização da ideologia que não pode preceder da íntima relação entre trabalho e educação. Indago a ela sobre a possibilidade de reunir todos e, juntos rediscutir princípios e diretrizes, ou até mesmo o Enio de membros da coordenação estadual para passar um período no assentamento. Enfim, após o almoço, ficamos catando feijão que aqui mesmo é plantado e será usado para um feijão tropeiro na noite de natal. Em seguida fiz aquela ciesta e depois me bateu uma forte saudade do povo de Juiz de Fora (MBF) e fiz uma breve ligação, pois o sinal de celular no assentamento é muito ruim. Comecei a estudar um outro livro e a ociosidade coletiva da população adulta me deixou irritado e fiquei estudando dentro de casa. O reflexo desses exemplos foi verificado hoje com a Thauani, que não tinha feito nada e queria continuar a não fazer. Conversamos com ela sobre a necessidade de participar no processo de construção da vida em coletivo, a partir das possibilidades que ela tinha, como catar um feijão ou varrer a casa. Mostrei a ela a ilustração da capa do livro “educação para além do capital”, mostrando uma menina quase de sua idade, estudando e trabalhando. Estudar, trabalhar e brincar não devem estar em oposição à vida livre. Para que todos fiquem bonitos para a festa a mãe de Joelma desembaraça o cabelo de Carol na varanda enquanto tira seus piolhos. Joelma e eu fomos a sede comprar alguns ingredientes que faltavam para a festa de natal. Começamos caminhando e logo uma carroça que nos deu uma carona até um trecho do caminho. Andamos mais um pouco e encontramos mil com a moto e a pegamos emprestada; Jô foi pilotando e eu atrás. Chegamos vivos a sede e compramos tudo que precisávamos. Eu comprei um rastelo novo para a família de Joelma. Na volta eu fui pilotando a moto, muito mal, mas muito engraçado, até onde mil nos esperava. Jô e eu então concluímos o percurso a pé. Durante o caminho conversamos sobre muitas coisas e foi muito bom. No assentamento nos envolvemos nos preparativos para a ceia de natal que irá acontecer na igreja evangélica. Arrumamos o espaço e as crianças ajudaram bastante. Fiquei de provador das comidas a pedido da mãe de Joelma. Durante as arrumações, algumas das muitas irmãs de Joelma foram chegando, juntamente com seus filhos, e trouxeram presentes para as crianças que aqui moram. Com tudo praticamente arrumado, tomei meu banho e ficamos conversando esperando o início das festividades. Antes do início o pai de Jô, seu Dico, me chamou para tomar uma pequeneninha. Fomos a uma sala que aparentemente só tinha entulhos, e tinha um tonel de uns 100L de cachaça, eu acho, feita de milho e cana por eles mesmos. Enfim, não podia recusar um convite do patriarca da família. Quando voltamos, todos já estavam reunidos no salão e, de mãos dadas em círculo, foi feita uma oração ao plano espiritual. Exatamente ao término da oração uma densa chuva começou a cair. Bênçãos dos céus? A chuva nos acompanhou por toda a noite, mas em nada atrapalhou nossa confraternização. Após todos comerem, Jô propôs um amigo declarado naquela hora e foi muito divertido. Dei a sorte de tirar alguém conhecido (tirei a mil, que por coincidência também me tirou) visto que a celebração também tinha outras pessoas do assentamento que eu não conhecia. Em seguida foi organizado um concurso de novos talentos e foi muito divertido. Vale notar que a espontaneidade, alegria e envolvimento de todos, de uma forma ou outra, em maior ou menor grau. Depois Alan ficou tocando violão e cantamos muitas músicas e nos divertimos bastante. Meu corpo já estava bem exausto e resolvi ir dormir pois já passava da meia-noite.
A manhã seguinte parecia ser um dia atípico: o dia meio frio, nublado e a impossibilidade de continuar a capina do campinho dado o lamaçal. Ficamos então sentados na varanda conversando enquanto fazia minhas anotações. Comecei a fazer minha leitura e logo João Vitor e Luiza, filhos de Roseana (irmã de Joelma) estavam sentados ao meu lado fazendo seus rabiscos, desenhos e pinturas. Ficamos um bom tempo ali enquanto outras irmãs de Joelma iam chegando juntamente com seus filhos. Muitas crianças juntas são garantia de bagunça. Fui tomar um café e conversar um pouco na cozinha e resolvi dar uma volta de moto e levei o menino Clayton na garupa comigo. Demos só uma pequena volta e foi suficiente para fazer uma pequena queimadura na canela. Seguindo as orientações do povo daqui, passei manteiga no local. Enfim, depois Clayton assumiu a moto e ficou passeando com seus primos todos, até cair. Ficou boa parte do dia emburrado por isso, mesmo não tendo machucado e só quebrando a seta esquerda da moto. Na casa de Joelma, na varanda parecia ter virado um grande salão de beleza onde as mais velhas ajudavam as mais novas na arte de se arrumar e se emperequetar. No almoço fiquei sob a sombra de uma grande árvore conversando com Roseana sobre coisas da vida. Inevitável e necessário foi a ciesta pós almoço. Acordei já imendando na leitura e me ative a ela uma boa parte da arde, mas o som alto dos festeiros de plantão estava incomodando bastante. A dor nas costas pela atividade de ontem me pegava de jeito. Resolvi arrumar a casa, varrer e passar um pano, mais para tirar o grosso da sujeira. Em seguida fui descascar os amendoins que iam ser usados para fazer um doce e tinha um saco cheio a ser descascado. Depois fui brincar de bola e balanço com as crianças. Fomos até o campinho onde os jovens mais velhos também estavam e iam começar uma pelada com gol de praia. Mais a diante ainda no campinho o tio de Joelma dava instruções de pilotagem de moto. Fiquei para bater a pelada e foi muito divertido; era a primeira vez que interagia com esse grupo. Jogamos até a noite cair e ficar impossível ver a ola. Estava em cansado e suado, mas a fila para o banho estava gigantesca e fiquei na cozinha conversando com seu Dico. Foi quando Tião me chamou para conversar em particular e fomos até a igreja evangélica. Ele me pediu para eu dizer o que estava achando do assentamento e disse que não teria muita propriedade para dizer algo consistente e sintonizado com a realidade, dado que estávamos também em um período de festas de fim de ano, e estava ali há pouco tempo. Mas pela sua insistência para que eu falasse, disse que estava vendo pouco ou quase nada dos princípios práticos e ideológicos do movimento acontecendo. Desde as questões da produção até do próprio convívio diário, e o trato com as questões coletivas, materiais ou não. Além de enxergar que a união álcool e ociosidade teria grandes possibilidades de gerar problemas. A conversa com Tião não durou muito pois chorando aos prantos ele dizia que realmente estava sobrecarregado e que fazia praticamente todas atividades de interesse coletivo sozinho. Relata também uma ausência de contato e participação mais constante da coordenação estadual e/ou nacional. Encerramos a conversa e fui brincar com as crianças; quando mil chegou, sentamos para conversar sobre a história da vida de cada um. Soube que ela era de uma favela de Betin, assim como outros assentados. Ela também demonstrava uma insatisfação quanto a coordenação, tanto a nível do assentamento quanto a nível estadual e nacional, chegando a responsabilizá-los pelo desvirtuamento político-ideológico do assentamento. Depois fui tomar um banho gelado e jantar. Notei o quanto é difícil a convivência coletiva, pois um pequeno grupo insistia em manter o volume do som do carro muito alto mesmo já tendo pessoas dormindo e um recém-nascido inquieto pelo barulho. Assisti um pouco de desenho com algumas crianças e fui dormir.
No dia seguinte acordei bem cedo e fazia um belo dia nublado; tomei um café forte e puro, que me fez lembrar da quarup, em especial do camarada Cláudio. Em seguida encontro com Tião já munido de sua máquina de cortar o mato e vou a procura de uma inchada. Logo comecei a capinar e foi juntando uma criançada ao meu redor querendo ajudar. Primeiro eles ficaram muito curiosos com a minha tatoo e ficaram um tempo conversando sobre ela e seus elementos. Para que todos pudessem ajudar, dei uma pedra para cada um e pedi que eles fossem circulando as plantas a serem capinadas e contar quantas cada um circulou; enquanto isso eu ia capinando. Depois pedi a elas para irem brincar de queimado enquanto eu trabalhava para não correr o risco de machucá-las. Depois de um tempo capinando, por falta de pratica (possivelmente) ou por a inchada estar com o cabo podre, ela se quebrou. Seu Dico disse que foi pelo fato de terem usado para virar cimento com ela e não lavado direito. De todo modo fui arrumar outra coisa pra fazer. Fui arrumar a casa com Joelma esfregando a cozinha que estava muito suja pelo fato de ontem a noite ter tido uma pequena confraternização pelo aniversário de 18 anos de Natália, mãe do recém-nascido, com bolo, refri e cerveja. Ao acabar fomos arrumar a igreja onde a noiva receberia os cumprimentos pelo casamento. Varremos, esfregamos e secamos ao som do legião urbana que tocava no som do carro. Deu para descontrair bem. Brinquei com algumas crianças no balanço esperando o almoço e reparava que as pessoas estavam se arrumando para a festa de casório e eu todo barbudo e cabeludo. Outra coisa que reparei foi uma quantidade de pessoas maior mobilizadas ajudando na arrumação dos espaços externos para a festa. Após o almoço, fiquei cuidando da dudinha, o bebezinho; e fiquei contando uma historinha para ela (ela tem 4 meses e estava lendo em voz alta o livro do Mèzaròs para ela). O baiano me ofereceu água de coco para beber; achei estranho mas gentil de sua parte. Resolvi com Joelma ir a sede cortar o cabelo, barba e bigode e comprar uma roupa mais arrumada para o casamento. Soubemos que o comercio lá já estava fechado. A solução foi comprar uma camisa social da mil e cortar o cabelo com o mel na casa dele. Lá, seu filinho Pablo estava dormindo e fomos ao trabalho. O corte escolhido foi o moicano e a barba ficou rala; um corte diferente e ficou legal. Mais tarde fiquei observando a mãe de Joelma preparando a comida para a festa (ela me impediu de fazer qualquer coisa); nunca vi tanto arroz junto; ela levantava e carregava panelas enormes e cheias com uma vitalidade pouco vista entre as pessoas de sua idade. Retomei em seguida minha leitura esperando a hora de se arrumar para o casório.
Fomos de carro até Sete Lagoas onde seria o casório, e no meio do caminho encontramos com outros companheiros de outros assentamentos entre eles o companheiro Alan, namorado de Joelma. Chegamos na igreja evangélica, bastante cheia e o casório já tinha começado. Todo aquele cerimonial que as pessoas se emocionam tudo normal até a pastora começar a falar para a noiva sobre suas funções e obrigação. Quando a pastora disse a noiva que ela deveria ser obediente e submissa ao seu marido... soltei um “que???” meio alto, e algumas pessoas olharam pra mim na hora. Dei uma disfarçada e perguntei pra uma criança do lado o que ela queria... De todo modo procurei me calar e esperar a cerimônia acabar. E tão logo acabou conversei com alguns companheiros sobre isso, e a argumentação deles foi justamente as contradições e imperfeições que ainda existem. Discutimos sobre a questão da origem da exploração do homem pelo homem, da mulher pelo homem, etc.
Bem, voltamos para o assentamento e já estava tudo organizado para receber os noivos e os convidados. Folhas de palmeiras na entrada, lamparinas acessas, som rolando, a mesa posta. Comemos e bebemos fartamente, e nunca estava sozinho; sempre havia um pequeno grupo para conversar. Em dado momento tocando música sertaneja, todos dançamos e nos divertimos muito. Um episódio interessante, que mostra de certo modo alguma faceta das tradições, foi o pedido de namoro feito por Alan ao pai de Joelma. Todos estavam do lado de fora da sala, se apertando na porta para poder ouvir os argumentos de ambas as partes. Feito o pedido e aceito, todos fomos tomar cachaça para comemorar. Foi uma situação nova para mim, mesmo em tempos de grande avanço da modernidade coisas como essa sendo praticadas em cidades do interior, mostra que determinadas práticas não tem que se perder, ou podem não se perder, pelo fato das relações sociais da produção da vida material estarem mais ou menos desenvolvidas.
Logo após tive uma longa conversa com Alan, sobre varias coisas do movimento, das contradições, das teorias, típica conversa de quase bêbados, mas uma conversa muito produtiva, e que estreitou bem os laços que nos ligavam. As pequenas rodas de conversa também foram todas muito agradáveis, é notória a boa disposição das pessoas em conversar sobre as coisas, e a atenção que dão ao que você diz. Lá pelas quatro da manhã já não tava mais agüentando ficar acordado e fui dormir, assim como boa parte das pessoas, afinal todos sempre acordam muito cedo, e o trabalho pesado do campo desgasta muito o corpo.
Na manhã seguinte, acordei bem cedo e fui a varanda da casa para me espreguiçar e respirar um ar puro. Quando olhei em volta estava tudo limpo. Achei muito estranho, pois quem teria limpado toda área comum do assentamento já naquela hora? Depois fiquei sabendo que foi o pessoal da comissão de limpeza que o fez assim que a festa acabou. Sensacional. Fiz um bom café puro e forte e fiquei tomando comendo um pão com manteiga, esperando o pessoal acordar. Pra variar as crianças acordaram antes e ficamos brincando de bola na terra. Quando o pessoal acordou, o irmão de Joelma propôs de irmos para a sede do conjunto João Pinheiro para jogarmos bola na quadra. Ele queria levar apenas o filho dele, mas fui chamando toda a molecada do assentamento e enchemos dois carros de crianças. Chegamos lá e fomos jogar na quadra, que era mais arrumada, cimentada e pintada. Dividimos as equipes e fizemos rodízio entre os jogadores para todos jogarem. Foi bem divertido pois no meio do jogo começou a cair uma fina chuvinha, mesmo ainda com o sol da manha. Havia alguns adolescente que moravam por lá e eles se juntaram a nós, e ficamos em torno de 2 horas jogando e brincando. Tivemos que voltar para o almoço pois boa parte das pessoas iriam viajar após o almoço. Chegando no assentamento comecei a transcrever o fichamento do livro “ o que é sociologia do esporte”, para eu tivesse somente esses escritos do livro e pudesse dá-lo de presente a mel, como contribuição e reconhecimento do seu trabalho, e como estímulo a ele que pensa em cursar educação física. Ainda antes do almoço, junto com algumas crianças fomos catar acerola. Juntamos duas sacolas da fruta, para comermos e para fazer doce. Já estava cheio de fome quando a mãe de Joelma chamou para o rango. Nesse almoço em especial estavam todos integrantes da família reunidos e fiquei no meu canto somente observando tudo que rolava entre eles, tentando ali verificar se pela diferença de opção política, ideológica, social e econômica, havia alguma diferença dos membros da família se relacionarem. Bem, há e não há diferença. Não acredito em modelos para as relações interpessoais, mas certamente com um pouco de sensibilidade e consciência, percebemos coisas nas relações entre os entes da mesma família que a nosso julgo não são corretas e por isso incoerentes e contraditórias. E vice-versa. Mas como fazer a partir daí para socializar e chegar a um entendimento comum sobre a melhor forma de se relacionar coletivamente? Enfim, perguntas sem uma só resposta para uma vida que apresenta sempre diferentes contextos, mesmo que de fundo tenham a mesma essência.
Bom, minha cabeça funciona a mil por hora quando estou vivenciando todas essas coisas e questões. Quando algumas pessoas estavam se arrumando para ir embora, decidi pela minha ida repentinamente. Acho que queria sair do mesmo modo que cheguei... de repente. Até por que não tava muito afim de despedidas; meu coração estava bem apertado, e despedir das crianças ia ser bem torturante pra mim e também pra elas. Foi o que fiz, despedi somente de algumas pessoas que ali estavam e peguei uma carona com o irmão de Joelma. No meio do caminho demos uma parada nas terras de seu Dico para coletar uma mandioca, umas mangas e tirar leite da vaca. Dividiram um pouco pra cada e seguimos viajem. O irmão de Joelma me deixou na entrada de Betim, estrada para Belo Horizonte onde peguei um ônibus para a rodoviária. Lá dei sorte de estar saindo um ônibus para Juiz de Fora, e nele embarquei para o última parte dessa minha viajem. Desde o momento que saí do assentamento até quando cheguei na rodoviária de Juiz de Fora, meus pensamentos fervilhavam sobre tudo e todos.... desde questão como sexo grupal até a essência da existência das formigas... Enfim, tudo para equacionar a questão maior, como mudar o mundo? Sem a menor pretensão de ser o agente único e exclusivo dessa mudança; não, eu não quero ser a direção da mudança; e sim, eu quero contribuir para a mudança. Depois dessa experiência penso que ninguém liberta ninguém, cada um deve se libertar autonomamente. Cada um constrói e dá o sentido que lhe convém a sua vida; temos que criar situações e contextos para que proporcione aos indivíduos ver, viver, sentir e perceber outras possibilidades para todas as esferas da vida, para além daquilo que esta posto. Certamente as grandes metrópoles tem de acabar; as favela, também conhecidas como comunidades, devem se emancipar; mas evidente que não o farão a revelia de toda uma macro estrutura contrária a sua emancipação. Mas certamente também não a farão se não trabalharem essa idéia e a vivenciarem de alguma maneira, somente esperando a direção salvadora. A união dos trabalhadores do campo e da cidade é certamente uma estratégia muito importante no fortalecimento da luta contra o capitalismo, através da emancipação das consciências.
Acho, dentro de todas minhas limitações intelectuais e conceituais, que tudo que já foi dito e escrito sobre o processo de mudança e como pode vir a ser as novas formas de organização social, mas certamente existem muito mais coisas entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia. Nem pátria, nem patrão.