Sobre o LAPA

O LAPA (Laboratório de Estudos e Práticas da Autogestão), muito modestamente, se propõe como um pequeno círculo de amigo(a)s e camaradas que possuem vínculos, afinidades, afetos e interesses em comum em torno do tema da auto-organização popular, talvez, como uma via possível para a emancipação de todos os subalternos e trabalhadores. Assim, é uma aposta simultânea na amizade e na revolução.

Por hora, o LAPA não se constitui como um coletivo, uma entidade ou uma organização, ainda que em potecial possa vir a ser isso ou outras coisas que nem sequer imaginamos. Como círculo, temos vínculos que nos unem para além do espaço que nos separa. Os estudos e ações que compartilharemos como círculo pode inclusive dar fôlego e alento para a formação e/ou consolidação de iniciativas coletivas e/ou individuais, nos mais distintos lugares onde nos situamos como vizinhos, estudantes, trabalhadores, etc.

A idéia de Laboratório, até agora sugerida, nasce como uma metáfora que se orienta pela dimensão experimentalista que carrega todo laboratório – e isso nos interessa particularmente, experimentar idéias e práticas, aprender e se apropriar do melhor dos processos políticos e sociais dos mais diversos movimentos de liberação que se levantaram contra todas as ordens e esquemas de dominação (inclusive os de esquerda). E mais: nosso laboratório é de bolso, se materializa e desmaterializa segundo determinadas condições ambientais e temperamentais, e talvez seremos muito mais tomados e possuídos pelas experiências do que a dissecaremos e a controlaremos, ao contrário do que ocorre com os homens-de-guarda-pó.

E se nos lançaremos a estudar e praticar a autogestão é porque ela todavia nos parece ser a melhor forma encontrada pelos dominados até hoje para que a terra, os meios de produção, o trabalho e a política (com ou sem o Estado) não se converta em monopólio e privilégio de uns poucos, e logo, instrumento de dominação, opressão e submissão de classe, casta, grupos ou camarilhas. E para isso é importante que nos alimentemos das teorias e narrativas que fundaram a autogestão como um princípio político, e que transcende, aliás, muitos projetos políticos ou ideologias (como o anarquismo e o comunismo); e ao mesmo tempo buscar compreender os caminhos e as vicissitudes das experiências de autogestão que tiveram curso, especialmente, na história moderna.



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

TOCANTINS

Entorno daquela praia posicionada no meio do Norte, onde a lua se move como uma criança levada, é possível observar a distancia que estou de voce, mas sei que logo estarei ai, trazendo o pão do café da manha. somente quero observar a vida correndo devagar, pisar com meus próprios pés, amar um lugar por não se parecer com um, entupir-se de fumaça vermelha.
Venceria o medo de correr, conheceria aqueles que viajavam tambem, me impulsionava de onde esteva para aonde poderia chegar. Pra muito longe eu fui, pra muito longe quero chegar, retroceder a infancia, dançar sem se incomodar.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Quando o café acaba...

Podemos passar o dia todo confinados voluntariamente em meio a milhares de livros, num dia cinza e chuvoso, ouvindo cooll jazz ou até um charme; ler, estudar, ver os amigos que estão ao seu lado fazer suas coisas.
O cuidado minuncioso do Cláudio com os livros, o seu swing ao dançar uma música que lhe apetece.
Ver o súbito interesse do Fábio pela região sul do país e toda sua dedicação em fazer seu trabalho acontecer e assim a vida caminhar mais sossegada.
Fazer uma macarronada para todos, mesmo sob a suspeita do Cláudio, que depois deu muitas garfadas dela.
Ver a Fernanda chegar na porta da cozinha e perguntar se tem café.
Assistir ao Fábio resgatando as chícaras do Cláudio "perdidas" entre uma casa e outra.
Ver o fluminense empatar de maneira sofrível.
Conversar sobre a vida e a não vida.
Ouvir a chuva chover forte... ouvi-la parar e retornar mais tarde.
Botar o mesmo cd pra tocar de novo.
Fazer um lanchinho da mamãe como na infância; rir até o ar faltar aos pulmões.
Pensar e não pensar ao observar e sentir esse espaço tão acolhedor.
Mas tudo isso teria um gosto a menos se não tivesse o café.
A garrafa de café é o ponto onde todas as mãos convergem e o líquido preto e quente que dela derrama é símbolo do vigor que, ao menos momentaneamente, une entrépidos pecadores na dura tarefa de vencer a si mesmos.
Mas quando a noite ou a fria madrugada vem, e na garrafa já não há uma gota disso que nos liga, um vazio interior e uma solidão seca toma conta de tudo.
Nessa hora percebemos que só há uma atitude a tomar: fazer uma nova garrafa de café fresco até que o café acabe de novo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A ocupação do prédio do INSS no Santo Cristo, que estava de 20 a 15 anos inutilizado, ocorreu
na madrugada de domingo para segunda-feira. O segurança não estava presente no local, depois
descobriu-se que ele havia ganho dispensa devido as eleições. Tudo ocorrera em paz.
Por volta das 8:30 da manhã a Polícia Federal e a Polícia Militar chegaram à Ocupação
Guerreiro Urbano, arrombando as portas, quebrando correntes e cadeados.

A ação foi realizada por um delegado e policiais que NÃO USAVAM SUAS IDENTIFICAÇÕES e ESTAVAM SEM MANDATO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE, conforme exige a lei referente à ocupação de imóveis abandonados.
Militantes que exigiram que o delegado se identificasse tiveram fuzis apontados para os seus corpos e
foram atingidos por spray de pimenta. Tanto delegado (da PM) e o comandante (da PF) não se identificaram.

Os policiais militares que ficaram no local fazendo a segurança do prédio, após o desalojo, apontavam metralhadora contra um grupo de sem-tetos e militantes pacífico e desarmado, entre os quais haviam senhoras de idade, bebês e gestantes

O evento foi divulgado em Blogs e no CMI (.http://pelamoradia.wordpress.com/category/rio-de-janeiro/) Passei ontem pela tarde no seminário internacional do Enlace (corrente do PSOL),que ocorria aqui no Rio, para entrar em contato com representantes dos mandatos de Chico Alencar e Marcelo Freixo. Ambos se comprometeram a divulgar o evento nos boletins de seus respectivos mandatos, bem como fazer falas na Câmara de Brasília e na Alerj para criticar o absurdo ocorrido. Uma matéria também deve sair no jornal Brasil de Fato.

Quem puder contribuir para a divulgação do ocorrido nos órgãos da imprensa, ampla, estudantil, sindical, partidária, etc, estará contribuindo para que este caso ganhe visibilidade e um novo absurdo autoritário e anti-constitucional como esse não volte a ocorrer. Militantes experientes nunca tinham presenciado uma desocupação tão truculenta e, repito, ilegal, Anti-Constitucional. Estou buscando as fotos da repressão, quem se interessar, fale comigo ou com os demais "apoios" do movimento sem-teto.

Também saiu uma matéria no jornal Extra, com o discurso típico de criminalização dos movimentos sociais.
Ocultaram notícias fundamentais, como o desarmamento dos militantes e ocupantes e a iligalidade da ação
policial. Organizações Globo, era de se esperar...
http://extra.globo.com/rio/materias/2010/11/01/policia-expulsa-cerca-de-100-ocupantes-de-predio-em-santo-cristo-onde-havia-posto-do-inss-922927522.asp
Reforço a importância da solidariedade de todos ao movimento sem-teto do Rio, que sofre em um momento de fortalecimento
da repressão estatal. Continuem ligados na possibilidade de mobilização.

MANIFESTO DA OCUPAÇÃO GUERREIRO URBANO

Hoje, o Rio de Janeiro passa por um momento dos mais preocupantes. O déficit habitacional do município é maior do que 150.000 (estimativa oficialmente subestimada), sendo que em cada 10 pessoas que necessitam de moradia, 9 ganham entre 0 a 3 salários mínimos. Mesmo com tanta gente precisando de moradia, existem mais de 220 mil domicílios vagos no município do Rio de Janeiro. Destes, grande parte fica ocioso durante décadas em um claro descumprimento da legislação brasileira. A Constituição Federal do Brasil diz que toda a propriedade, seja ela rural ou urbana, precisa cumprir a sua função social. Se o proprietário não dá a ela uma função ele está infringindo a lei e, portanto, o Estado deve agir para fazer valer a sua Carta Magna. Contudo, o que acontece quando o Estado torna-se não apenas negligente, mas cúmplice dos proprietários infratores? E quando é o próprio Estado que descumpre as leis pelas quais diz zelar? O Estado democrático deveria estar a serviço do povo trabalhador e não do capital imobiliário!!!

A população pobre urbana carioca vive mais um grande ataque perpetuado pelo Estado e suas esferas de governo. Políticas públicas como o Choque de Ordem, a “revitalização” da zona portuária, as UPPs e o programa Minha Casa Minha Vida, conjuntamente, acabam agravando a periferização da pobreza e beneficiam diretamente grandes construtoras e os especuladores imobiliários. Na Zona Portuária (local de grande tradição para a população pobre carioca), a pseudo-revitalização não esconde o seu principal objetivo: substituir a população pobre por uma população de classe média. Além dos despejos ilegais e da expulsão branca (já que, aumentando o custo de vida, fica difícil permanecer na região), o pobre urbano, principalmente o camelô, é perseguido como se fosse um ladrão por uma Guarda Municipal que é cada dia mais covarde, violenta e criminosa. O Estado não hesita em incluir os camelôs em suas estatísticas na categoria de empregados, mas rouba e espanca o trabalhador com um discurso de criminalização do trabalho informal. Como podemos aceitar políticas públicas que expulsam o pobre da sua moradia e retiram o seu único meio de sobrevivência? Fica claro que a Prefeitura deseja sufocar o trabalhador pobre que reside no Centro e empurrá-lo para a periferia. E em contrapartida? A Prefeitura promete uma casa no fim do mundo com o programa Minha Casa Minha Vida – bem longe de todos os serviços dos quais precisamos (saúde, trabalho, transporte, educação, lazer...). Ou então, oferece um aluguel social de 400 reais – que, além de não sustentar nenhuma moradia próxima ao Centro, é suspenso pela Prefeitura quando ela bem entende.

Queremos moradia porque é um direito garantido pela Constituição! E dizemos que ela precisa ser no Centro porque trabalhamos aqui. Mas também porque é aqui que estão as melhores escolas públicas, os melhores hospitais, creches, teatros, centros culturais e bibliotecas. Afinal de contas, não é só a moradia que é um direito constitucional, mas também a saúde, a educação, a cultura e o trabalho. Além disso, segundo o IPP (Instituto Pereira Passos), na Zona Portuária, 1 em cada 4 imóveis está vago. E, se não bastasse, reconhece que grande parte desses imóveis são públicos! Portanto, não queremos aluguel social: ele não resolve o problema da moradia. E não queremos casas longe do nosso trabalho: queremos qualidade de vida, acesso à cultura, à educação e à saúde também. Temos o direito de ter acesso à cidade que ajudamos a construir!

Por isso, hoje, dia 1 de novembro nós ocupamos este prédio que há décadas se encontrava abandonado, deixado de lado, “sem vida”. Ocupamos porque a verdadeira revitalização será feita por nós! Nós, trabalhadores e trabalhadoras, cansados de tanta opressão, nos organizamos há meses para hoje nos juntarmos a outras tantas vozes e dizermos: Basta! Se o Estado não cumpre a lei, nós a faremos cumprir, pois somos nós que tivemos nossos direitos usurpados, nós que sofremos com a violência diária e nós que construímos e continuamos a construir essa cidade. Cidade esta que por trás de uma máscara “maravilhosa” esconde o rosto e as marcas da pobreza e da violência. As soluções do poder público não nos servem, já que continuamos sendo tratados com todo o desprezo, como criminosos, como um lixo humano.

Cansamos de esperar o poder público agir! Cansamos de ver o governo trair a população para beneficiar os verdadeiros criminosos e especuladores! Ocupamos para mostrar que dos nossos olhos não rolam só as lágrimas de desespero pela injustiça que sentimos na pele todos os dias. Com nossos olhos também vemos que, se é com nossas mãos que a cidade conta para crescer, é com elas também que vamos contar para construir juntos as soluções para nossos problemas. Os direitos de todos também são nossos. Se não nos dão, só nos resta tomá-los.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Reflexão LAPIANA sobre o ‘’curral’’ formado em Uberlândia, denominado Seminário Nacional de Educação

Entre os dias 9 e 11 de Outubro, ocorreu o seminário nacional de educação no qual, ao contrario do que foi falsamente alardeado por diversos movimentos, contou com no máximo uns 250 estudantes (levando em consideração que o fato de estar matriculado em uma instituição de ensino já o torna estudante e não o fato de se identificar com tal setor). Considerando que para um fórum de nível nacional de reorganização da pseudo-esquerda brasileira, esperava-se alcançar a media de pelo menos 400 estudantes. Talvez tal esvaziamento se deu devido a como se deu o processo tanto de construção tanto de divulgação nas universidades que provavelmente em muitas delas não deve ter sido muito diferente de como foi na UNIRIO.

Em nossa universidade, a divulgação de tal fórum foi mínima, impossibilitando a ampla participação dos estudantes, inclusive os que atuam no movimento estudantil da mesma, dessa forma teve-se um monopólio sobre os passageiros, inclusive, segundo relatos, uma pessoa que estava interessada em ir, por fazer parte de um grupo opositor ao do grupo que se responsabilizou sobre o processo do ônibus, foi impossibilitada de ir, enquanto pessoas (que compõe o mesmo coletivo do grupo responsável pelo ônibus) de outras universidades tiveram suas vagas garantidas, o que não é problema, pois nos devemos nos apoiar, porém garantir vaga a esses estudantes enquanto uma colega da própria universidade foi deixada de fora, é no mínimo incoerente.

Sobre o andamento do Fórum, tivemos o entendimento que mais uma vez o debate de reorganização foi jogado para segundo plano, privilegiando uma unidade rebaixada, muito previsível já que a própria convocatória em sua parte final, já demonstrava como um ''spoiler'' de que o que sairia dali não seria algo mais avançado que calendário e material. Por causa desses tipos de acontecimentos que preferimos boicotar alguns espaços, buscando observar de fora como se dariam as praticas dos que estavam ali presentes e entendendo que o contato com a cultura local seria muito mais proveitoso para nossa formação pessoal.

Os espaços de decisões do Fórum se deram por consensos sem a crítica franca, por causa do temor daqueles setores que queriam esse tipo de unidade, não queriam que acontecesse em qualquer momento a reprodução as práticas que vimos no CONCLAT e CNE, então temos velhas formulas falidas que não polarizam com os ataques do governo Lula/PT, vemos a necessidade de refletirmos sobre o fato de que não haverá superação da luta de classes se não superarmos a guerra de egos.

Com o debate sendo deixado em segundo plano, mostrando inclusive total falta de preocupação dos grupelhos ali presentes com a questão da fundamentação política para os militantes de base, acabou que diversas mesas não foram garantidas em detrimento da necessidade de tempo para que os grupinhos ou coletivos (como preferir chamar) pudessem juntar seus respectivos “gados” para lhes impor sem reflexão nenhuma seus posicionamentos, e dessa forma inflar seus próprios coletivos.

Observamos práticas de estudantes de base serem levados sem que se tivesse o mínimo de fundamentação da discussão política sobre o que deveria significar tal fórum, vemos assim como um parasitismo de alguns setores do ME, na disputa de migalhas de estudantes, na maior preocupação de realizar reuniões de seus coletivos do que na superação das divergências. Será que não é esse tipo de comportamento que gerou o Refluxo no ME? Fica a reflexão. Gostaríamos de salientar que tal pratica não é culpa do estudante de base que ta ali na tentativa de construir e de conhecer, e justamente devido a sua boa vontade, são enganados pelos militantes que chegam numa postura “coleguista” e cooptados sem terem acesso a uma discussão mais ampla sobre praticas organizacionais, ou seja, vemos a reprodução de praticas alienativas por parte dos que se dizem revolucionários.

Queremos deixar claro que nosso boicote dos espaços ali propostos e outros manobrados para que ocorressem por acharmos mais válidos e relevantes para nossa existência conhecermos a cidade de Uberlândia (suas feiras, parques, botecos, pessoas, comunidades, etc) do que participar de plenárias fictícias, onde as direções decidiam as 13 da tarde aquilo que teriam consenso e aquilo que não teriam, mostrando uma total falta de coragem de expor divergências programáticas.

Aqueles bravos companheiros que queriam expor seu descontentamento com ocorrido nos espaços tiveram sua voz dificultada pelas direções, será que é esse tipo de democracia que teremos em uma sociedade superior a essa? Creio que não, no meu entendimento a opressão do consenso se assemelha com as piores ditaduras, toda discussão e desnaturalização dos processos vigentes se faz necessário.

É muito importante situar que a luta contra o governo Lula/PT não pode se dar de qualquer forma, é preciso fazer a caracterização que se governou a serviço dos banqueiros e capitulando os movimentos (CUT, MST e UNE), nesta eleição vimos que todo o processo foi financiado pela grande burguesia e mesmo assim vemos membros e correntes do PSOL declarando apoio a candidata Dilma Rousseff, o que nos leva a questionar se realmente estão pautados na luta da classe trabalhadora.

Por isso, é de grande importância termos o entendimento que uma prática opressora com os diversos trabalhadores que ali presentes (Seguranças, Cozinheiros, Motoristas) compactua com a opressão que a classe dominante já propaga. Por isso que repudiamos esse tipo de atitude por acharmos que isso não é uma atitude de quem se reivindica comunista (Libertário, Leninista, Trotkista, etc.).

Fechamos nosso balanço salientando a necessidade de buscarmos novas estruturas organizacionais para a construção do movimento estudantil de forma geral, visto que se torna cada vez mais evidente a falência do movimento tal como é hoje, até mesmo porque a atual estrutura esta fadada a cair num total aparelhismo por parte dos partidos e movimentos totalitárias, que se utilizam dos aparatos das entidades estudantis para se infiltrar no meio universitário, deixando a demanda dos estudantes em segundo plano em detrimento da imposição de seus programas.

''Só ha duas opções nesta vida: Se Resignar ou se indignar. E eu não vou me Resignar Nunca''

Darcy Ribeiro

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Texto dos camradas da UFSJ

MOVIMENTO ESTUDANTIL: CRISE DE DIREÇÃO OU REPRESENTATIVIDADE?

Entendemos que a desarticulação do ME passa pela crise de representatividade. Independente de quais sejam as diretorias dos movimentos universitários, os DCE’s, UEE’s e entidades gerais não conseguem, salvo raras exceções, dar respostas para as demandas quotidianas dos estudantes, quanto mais para as questões políticas “maiores”.

DO HISTÓRICO

O movimento estudantil protagonizou diversas lutas do povo brasileiro. A criação da Petrobrás é um dos exemplos. Para além da análise da conjuntura de 50 ou 70 anos atrás, onde as disputas dos projetos de sociedade se davam de um modo mais aberto e intenso, constatamos que o movimento universitário era organizado pela base. Nas Universidades, os Centros Acadêmicos – CA’s – davam os rumos do movimento.

A ditadura de 64, na perspectiva de domar o ME, criou a figura dos DCE’s nas Universidades, organizados por eleições diretas. E nas Universidades onde já existiam DCE dirigidos pelos CA’s, acabou com o poder destes CA’s sobre o DCE, instituindo eleições diretas.

HERANÇA “GREGA”

Foi-se a ditadura, ficaram-se os DCE’s com eleições diretas. As “Diretas Já” foi uma conquista democrática, pois saímos da ditadura, saímos das trevas. Mas as diretas trazem consigo uma limitação no exercício da democracia. O povo vota de tempos em tempos, sem mecanismos de exercício direto do poder. Isso resulta no quadro atual. Para eleger um deputado, por exemplo, gastam-se milhões e milhões de reais, logo, manda quem tem dinheiro.

OS DCE’s HOJE

Nos DCE’s, a lógica não difere. São compostos por eleições diretas que exigem dinheiro, e o estudante limita-se a votar, pois elege uma diretoria com plenos poderes para mandar.

As eleições diretas são um poder limitado de democracia, pois o estudante vota numa chapa e não manda em nada depois. E por não mandar, participa pouco ou quase nada do movimento, pois é raro ver DCE’s onde votam mais de 10% dos estudantes.

Desta democracia limitada decorrem vários problemas: Corrupção, aparelhismo, carreirismo (nestes DCE’s, é comum a figura dos “estudantes profissionais”), oportunismo, etc.

MUDAR É POSSÍVEL

No entanto, outro tipo de democracia é possível, no lugar destas grandes e caras eleições. Há seis anos, quem dirige o DCE da Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ são os CA’s e DA’s, por meio do Conselho de Entidades de Bases, que se reúne periodicamente para dar os rumos do DCE (cada CA ou DA tem um voto no conselho). Este conselho elege os cargos executivos do DCE (secretário, tesoureiro...), que têm a mera função de executar. E o principal, que é o poder que o conselho tem de revogar, sempre que necessário, qualquer dos cargos executivos do DCE. Tal democracia é mais avançada, pois:

* Dificulta a corrupção, pois um CA/DA fiscaliza o outro.

* Os CA’s/DA’s se fortalecem, pois passam a ter o poder do DCE. Na UFSJ, antes desta mudança funcionavam de fato 3 CA’s, num universo de 12 CA’s formalmente constituídos. Hoje existem 25 CA’s funcionando de fato.

* Acaba com o carreirismo, pois quem manda no DCE são os CA’s/DA’s, e não um ou outro “figurão iluminado”. É o fim da figura do “estudante profissional”.

* Os partidos políticos que desejarem participar do ME terão que mudar sua relação com o movimento, fazendo política de base nos CA’s/DA’s e atuando de maneira propositiva no conselho.

* No conselho a participação é aberta a todos os estudantes, logo não precisa ser do partido A ou B pra ajudar a construir o movimento.

* O conselho é contínuo, pois por não haver grandes eleições (e suas respectivas fraudes, denúncias, problemas com a justiça...) não se para o DCE por meses. Como o conselho é permanente, a renovação é mais saudável, pois dificilmente serão trocados todos os CA’s/DA’s de uma só vez (como acontece com uma diretoria de DCE, nos moldes atuais).

* As eleições são mais que diretas, pois a participação na eleição de um CA/DA é muito mais significativa que na de DCE (geralmente 30% votam na eleição de um CA/DA, enquanto na de DCE não se chega a 10%). Além disso, uma eleição de CA/DA é mais confiável, pois se usa pouco dinheiro e geralmente os estudantes conhecem os membros da entidade.

* O conselho, por ser aberto, torna-se multidisciplinar, o que melhora a qualidade de suas decisões.

E OS PARTIDOS PARTICIPAM DESTE TIPO DE DCE?

Este formato proposto de DCE muda a relação dos partidos. Hoje, muitos partidos, alguns que buscam a revolução, seguem a velha tática: Aparelhar um DCE, para pegar dinheiro e a imagem do movimento para colocar a seu serviço, pois entendem que assim estarão mais fortes e consequentemente mais próximos de fazer a revolução.

O que se vê, são estes partidos ganhando uma eleição de DCE para ganhar outra eleição, e pra ganha outra eleição, sendo um eterno ciclo vicioso. O que eterniza um movimento fraco, sem representatividade, e o que redunda em partidos corruptos, com uma militância treinada na fraude, no oportunismo, no carreirismo...

Com um DCE dirigido pelas bases, os partidos que buscam construir-se devem disputar sua política nas bases, junto aos CA’s e DA’s. E devem participar do Conselho de CA’s e DA’s de um modo construtivo, pois do contrário fracassarão.

OS ESTUDANTES SÃO “REACIONÁRIOS”?

É comum ver defensores da manutenção do status quo (manter os DCE’s como estão) dizerem que os estudantes são reacionários, que não participam do movimento por serem “anti-revolucionários”. É bastante óbvio que o estudante entre na Universidade com uma imagem negativa do movimento, pois somos bombardeados desde o “berço” com a propaganda de que MOVIMENTO=BADERNA.

Ora, mas o que os estudantes vêem ao entrar na Universidade? Geralmente, baderna. Um movimento pautado no divisionismo, no disputismo, na baixaria. Um movimento que pouco constrói. Sendo assim, é igualmente óbvio crer que a maioria dos estudantes ficarão a margem do movimento.

No entanto, se há uma dinâmica favorável para o movimento como tem havido na UFSJ nestes últimos anos, muitos estudantes se aproximam, constroem o movimento, e alguns acabam exercer a política para além da Universidade, organizados ou não em partidos políticos.

Um atestado disso é que, em São João Del-Rei, muitas organizações políticas estão fortalecidas, com bons militantes treinados no diálogo e na construção de um movimento de fato.



Tudo o que vejo vai mal.
Tudo o que penso, sem igual.
Teoria, minha querida,
Mostra-me o caminho da vida.

A. Glassbrenner

sábado, 25 de setembro de 2010

LUTARMADA Hip Hop e as eleições.



Galhardetes, baners, faixas, carros de som, panfletagem profissional, promessas, mentiras, acusações e bravatas. De 2 em 2 anos somos submetidos autoritariamente a esse martírio. A propaganda oficial diz sobre o seu Direito ao voto. De acordo com Marilena Chauí “a função do Direito é fazer com que a dominação não pareça uma violência. Se o Estado e o Direito fossem percebidos como instrumentos de dominação, os dominados se revoltariam”. E hoje o que fazem os partidos, inclusive os de esquerda? Se valem desse Direito ao voto para disputar espaço no Estado. E reparem que no caso das eleições, sob as cortinas do Direito se esconde uma obrigação. Se a pessoa com idade eleitoral resolve não votar, ela estará obrigada a uma multa ou será submetida a punições que trarão transtornos à sua vida social e pessoal. Ou seja, o que se propagandeia como um direito seu, na verdade é uma imposição.
As candidaturas de esquerda muitas vezes são justificadas com o argumento de que o Estado é um fato que independe da nossa aprovação como militantes, e que por isso devemos ocupar esses espaços com nossos representantes para serem um contra-ponto aos políticos de direita. Começamos aqui denunciando a possível ingenuidade que há em acreditar nisso. Para quem concorda que O Estado é o comitê executivo da burguesia, é um tanto quanto equivocado levar a nossa luta para um campo onde a burguesia tem mais força. Pela experiência acumulada nesses dinâmicos anos de “democracia”, percebemos que “nossos representantes” não ocupam espaços no aparato do Estado. Eles são, sim, consumidos, tragados, abduzidos pelo Estado.
Se os partidos surgem como forma de organizar o povo para a luta, esse propósito se desvirtuou com o tempo. Hoje, em função das eleições, os partidos não só abdicam da organização da luta popular, como desorganizam algumas iniciativas em construção. Em primeiro lugar ninguém seria leviano em negar que em período de eleição não há luta, a não ser por votos. Toda a esquerda, inclusive a que não é cúmplice disso, é pautada pelo processo eleitoral (vide o atual insucesso do Plebiscito Popular Pelo Limite da Propriedade de Terra, pro qual já se sabe, teve uma participação bem inferior aos plebiscitos anteriores ). Numa segunda análise nota-se que algumas organizações passam um período de 1 ano e meio em suas bases num trabalho de formação sob um alerta de Karl Marx de que “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”. Até que a campanha eleitoral começa e boa parte da esquerda atravessa o nosso caminho dizendo que “o seu voto pode fazer a diferença”.
Com tanta gente falando sobre o voto como caminho para o progresso, a justiça social e a paz, e como a defesa do processo eleitoral está presente tanto no discurso da direita como no da maioria esmagadora da esquerda, como o grito de “vote” ecoa bem mais e em maior volume do que o grito de “lute”, por fim as bases se convencem de que a emancipação dos trabalhadores será obra... do “meu representante” no congresso, na assembléia, na câmara municipal, e no palácio do governo. Só que como a máquina de propaganda (e compra de votos) da direita é infinitamente mais forte do que a da esquerda, a grande maioria dessas pessoas convencidas a votar, votam em conditat@s de partidos conservadores. Isso fica difícil de ser enxergado por uma esquerda distante das “comunidades baixa-renda”. Porém, mesmo de longe isso pode ser constatado quando se observa que quase a totalidade de moradores dessas comunidades que se candidatam, o fazem por partidos de direita. Esse é o resultado do desserviço prestado pela esquerda partidária, que legitima a perpetuação de nossos inimigos no poder.
Numa das primeiras paginas da tão comemorada constituição de 1988, consta que “todo poder emana do povo (...)”, mas, por exemplo, na esfera federal, 15,5 bilhões do nosso dinheiro foram gastos saldando a dívida do Estado brasileiro com o FMI; no Estado do rio, com um déficit de aproximadamente 10 mil professor@s, o governo gasta R$ 45 milhões com carros e helicópteros blindados para a sua polícia, em maior segurança, atirar em cabeça de pobre; no Rio, a prefeitura proibiu a utilização de escolas municipais para a realização de cursos pré-vestibulares comunitários. Cursos esses que capacitaram muit@s jovens de periferia a prestar, com sucesso, um vestibular que nem deveria existir. Se o poder de fato emana do povo e se o povo é diretamente afetado com tais medidas, por que o povo não pode debater e decidir?
Alguns militantes de partidos de esquerda dizem que o voto nulo, hoje, no Brasil é despolitizado. Podemos até concordar com isso, mas a mesma coisa pode se afirmar sobre o voto válido: sua esmagadora maioria se baseia em critérios os mais variados e absurdos que não o histórico, a orientação e plataforma política de cada candidat@. Para ilustrar tal fato basta ver a projeção de votos para o candidato a deputado em São Paulo, Tiririca, cujo slogan é “Vote no Tiririca. Pior do que tá não fica”. E esse processo de deseducação política do nosso povo tem enorme colaboração dessa esquerda que promove campanhas como “Fora Sarney”, “Fora Arruda” e outras semelhantes, atacando um sintoma da nossa sociedade e não a sua estrutura. Por que? Seria por que não é interesse implodir uma estrutura da qual querem se beneficiar? Em artigo publicado em junho deste ano
(
http://metamorfozesnacidade.blogspot.com/2010/06/uma-outra-politica-e-possivel.html), o sociólogo Antonio Ozai dá a sua opinião sobre essa questão: “cada vez mais aumenta o número dos que passam a viver da política. A missão revolucionária, viver para a política, é sutilmente substituída pela dependência econômica em relação ao aparato burocrático do partido e do Estado”.
Para @ polític@ honesto da esquerda que quiser de fato combater a corrupção na nossa política, o primeiro passo deveria ser não emprestar a credibilidade de seu nome a um jogo que permite a acessão ao poder de figuras como Collor, Sarney, Maluf, Arruda, Álvaro Lins, Celso Pita, José Dirceu e tant@s outr@s. Também não se sustenta o argumento de que pode se votar no candidato X para impedir que o candidato Y se eleja. A dinâmica da política institucional é muito suja. Os opositores de hoje “num toque de mágica” amanhã se tornam aliados. Um bom exemplo era a polarização entre PP e o PT, principalmente em São Paulo. Essa prática de votar para excluir funcionou até 2003. Quando o PT chega à presidência o PP – que já se chamou PDS, PPR e que tem origem na Aliança Renovadora Nacional (ARENA, partido de sustentação da ditadura de 1964) – se alia ao antigo rival. Como dissemos, o jogo é sujo.
Respeitamos todas as formas do povo organizar a luta contra-hegemônica. E se criticamos a atitude dos partidos que disputam eleições é porque acreditamos que essa não é uma forma de organizar, mas sim, o contrário, ela desorganiza a nossa classe para a luta.
Então, não é só pelo que representa o Estado; não é só pelo impacto negativo que o processo eleitoral tem sobre as organizações populares; não é só por legitimar o poder exercido pelos nossos inimigos de classe; não é só pela corrupção d@s que são eleit@s; não é só pela sangria de militantes das ruas para o aparato burocrático, tanto do Estado quanto dos partidos; não é só pelo fato de esse modelo institucional usurpar o poder que deveria emanar do povo. É por tudo isso junto que nós do Coletivo de Hip Hop LUTARMADA acreditamos que o caminho que nos levará ao socialismo não passa pelas eleições. É por isso que nós defendemos o voto nulo.


Inspirad@s nos Black Panthers,
TODO PODER AO POVO.

Coletivo de Hip Hop LUTARMADA.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Campanha Nacional pelo Limite da propriedade da Terra - em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar.


Criada em 2000 pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA), a Campanha pelo Limite da Propriedade da Terra: em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar, é uma ação de conscientização e mobilização da sociedade brasileira para incluir na Constituição Federal um novo inciso que limite às propriedades rurais em 35 módulos fiscais. Áreas acima dos 35 módulos seriam automaticamente incorporadas ao patrimônio público.

O módulo fiscal é uma referência, estabelecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que define a área mínima suficiente para prover o sustento de uma família de trabalhadores e trabalhadoras rurais. Ele varia de região para região e é definido para cada município a partir da análise de várias regras, como por exemplo, a situação geográfica, qualidade do solo, o relevo e condições de acesso. A aprovação da emenda afetaria somente pouco mais que 50 mil proprietários de terras.

A introdução desta medida resultaria numa disponibilidade imediata de mais de 200 milhões de hectares de terra para as famílias acampadas, sem despender recursos públicos para a indenização dos proprietários. Esses recursos são hoje gastos em processos desapropriatórios e que poderiam ser empregados no apoio à infra-estrutura, ao crédito subsidiado e à assistência técnica para os assentamentos.

De acordo com os últimos dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) em 2006, no Brasil, 2,8% das propriedades rurais são latifúndios e ocupam mais da metade de extensão territorial agricultável do país (56,7%). Em contrapartida as pequenas propriedades representam 62,2% dos imóveis e ocupam apenas 7,9% da área total.

Vale lembrar que mais de 70% dos alimentos produzidos para os brasileiros provém da agricultura camponesa, uma vez que a lógica econômica agrária tem como base a exportação, principalmente da soja, da cana-de-açúcar e do eucalipto. O Brasil tem a segunda maior concentração da propriedade fundiária do planeta.

Diante da realidade do campo, vários segmentos sociais se mobilizam para conquistar seus direitos. O papel da Campanha é exigir a obrigação do Estado em garantir esse direito à propriedade da terra a todos os brasileiros e brasileiras que dela tiram seu sustento. Além disso, a Campanha também está engajada na luta contra o agronegócio e o hidronegócio no Brasil, que destroem o meio ambiente, a biodiversidade e desabrigam milhares de trabalhadores rurais, quilombolas, indígenas e comunidades ribeirinhas.

Ações

Nacional

* Realizar mobilizações simultâneas em todos os estados brasileiros;
* Dialogar com parlamentares sobre a Campanha;
* Organizar audiências públicas;
* Buscar apoio de outros movimentos sociais;
* Organizar marcha nacional;
* Realizar plebiscito nacional;
* Criar o Dia Nacional pelo Limite da Propriedade;
* Discutir o tamanho do limite da propriedade de acordo com as estruturas fundiárias regionais;
* Respeitar as territorialidades das comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, entre outros;
* Ocupação das propriedades acima de 35 módulos, produtivas ou não.

Estadual/Regional:

* Criação dos Fóruns Estaduais;
* Lançar a Campanha nos estados e em eventos que reúna as organizações;
* Realizar seminários de formação e encontros estaduais e regionais para estabelecer estratégias da Campanha;
* Promover lançamento da Campanha nos estados;
* Realizar atos públicos em defesa do Limite da Propriedade da Terra;
* Articular com outras entidades/instituições como escolas, igrejas e universidades para que o debate atinja toda a sociedade;
* Organizar comissões por região para debater a Campanha;
* Buscar apoio com outros movimentos sociais de cada região do país.


Objetivos

* Propiciar a formação para os/as participantes sobre os temas centrais da Campanha, qualificando os trabalhadores/as rurais e suas organizações sobre a questão agrária do Brasil;
* Possibilitar uma maior integração e engajamento das diferentes forças sociais, a fim de disseminar e fortalecer a Campanha nas diferentes regiões e estados brasileiros;
* Definir formas de mobilização e organização da Campanha, dentro da reforma agrária, da soberania alimentar e da luta contra o agro e hidronegócio;
* Construir estratégias de inserção e diálogo em torno da Campanha, com os diferentes atores da sociedade (Estado - poderes executivo, legislativo e judiciário, meios de comunicação, universidades, organizações populares) para massificar a discussão da Campanha.

Maiores informações:

www.limitedaterra.org.br

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Manifesto contrário a Belo Monte e favorável a energias alternativas educadores(as) e instituições vinculadas à REBEA"

Nós educadores e educadoras ambientais deste país nos manifestamos, enquanto coletivo, contrários em relação à UHE de Belo Monte.


Com maturidade e responsabilidade, salientamos que, à medida que a população brasileira se conscientiza em relação à importância da preservação socioambiental, nos cremos nos constituirmos cidadãos capazes de demandar menos energia e de redução significativa do desperdício. Podemos somar esforços e, conjugada e coletivamente, pensar num futuro sustentável para o Brasil.


A situação ambiental que vivemos vem piorando e se tornando extremamente crítica em vários pontos e setores da sociedade brasileira. A cultura do "progresso " ainda não conseguiu suplantar as desigualdades e a idéia de que o crescimento do país está necessariamente associado a sua destruição social, ambiental e étnica. Nós educadores e educadoras ambientais deste país, almejamos e trabalhamos para uma sociedade constituída em bases sustentáveis, que nos faça ter orgulho da herança e da memória que deixaremos à nossos filhos e netos.


Queremos registrar assombro e consternação diante do tamanho do impacto social, étnico e ambiental que se antevê para Belo Monte: estragos de proporções cataclismáticas, desnecessárias e estapafúrdias, em um momento onde o mundo pensa em soluções na direção contrária.


Há o sincero risco de se desestabilizar a milenar harmonia do rio Xingu e suas gentes, principalmente os povos indígenas que ali aprenderam a respeitar a Terra e a viver com ela e não contra ela - como estamos fazendo com este péssimo exemplo.


Alertas em oposição à obra vem de diversos setores, aos quais nos alinhamos, neste momento. Entre eles estão cientistas, institutos de pesquisa e movimentos ambientalistas, indiginistas e sociais. Muitos questionam o empreendimento do ponto de vista de seus custos e benefícios e perguntam: A quem se remetem os custos? E a quem se remetem os benefícios?


Enquanto isso, parece que há um certo comodismo conformista por parte da sociedade brasileira. Talvez estejamos paralisados, inertes. Estamos diante de nosso Destino e o devemos assumir com nossas mãos, corações e mentes.


Não há limites para os desastres da ganância embutida no desenvolvimento a qualquer custo. Um desenvolvimento excludente e desigual que não pergunta: desenvolver para quem? E privilegia, muitas vezes, os mais abastados da sociedade brasileira. Por que Belo Monte? Para quem Belo Monte? São perguntas que orbitam a mente dos educadores e educadoras ambientais deste país, personagens- cidadãos da esperança; profissionais indispensáveis para a construção de uma cultura e uma sociedade sustentável.


Saudações Ecofraternas,


REBEA


Aos interessados em assinar o manifesto, entrar em contato com rebea@yahoogroups.com.br

Fonte: http://www.rebea.org.br/conhecimento/item/703-em-defesa-de-belo-monte

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Do rio ao sertão sem gastar nenhum tostão


“ ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais....”


Esta história, que é real e verídica, começa não de onde se inicia, um final de tarde chuvoso na capital fluminense, mas começa por motivações subjetivas precedentes, que, em última instancia tem suas influencias e determinações nas objetividades da vida. Depois de algum tempo passei a crer que a chuva que poderia ser o prelúdio de um banho de água fria que caíra impiedosamente sobre minh’alma, quase que congelando todo o calor das minhas emoções. Os canais virtuais de comunicação me trouxeram a notícia de que eu pariria partido, fragmentado, incompleto... Ora, camaradas, partamos mesmo assim, o tempo se encarregará das curas necessárias.

De 48, apenas 12 – Brasília Há vagas! – papos, filmes, música e muito conforto; a viajem foi bem UTIL. Na capital federal, uma carruagem celestial guiada por dois anjos de carne e beleza. Não farias tu a mesma troca?

Sim, eu confesso que vivi, não o ideal, mas o real e concreto. Fui o que fui e é isso que digo. Porque você não vive? Não experimenta? Não erra?

Fiz bons amigos, conheci uma centena de pessoas, fui quase sempre solidário e ouvinte atento aos dizeres de qualquer natureza dos outros, andei com e sem rumo, vendo pessoas e prédios, de perto e de muito alto. Mas,... independente de onde, como e com quem, ainda somos os mesmos e cometemos os mesmos erros que nossos pais. E a todo momento o pensamento se volta às montanhas das Minas Gerais, mas de nada adianta.

Para você que não é portador e defensor árduo de nenhuma cartilha receituária da “revolução proletária” abre as portas da mente e do coração para um esforço sincero de compreenção do olhar alheio e a tranquilidade e paz de espírito de não ver o diferente como inimigo. Nosso espaço de convívio tem que ser preservado mas aberto; aberto mas preservado.

Brasília bem que podia ser um mauzoléu de gente viva concretadas em suas casas. Não se ve gente nas ruas. Ninguém melhor que Renato Russo descreveu a vida desse lugar.

Bebi o que tinha pra beber, do simples suco ao refrigerante de camarão, conhecida como Pitú; participei de boas rodas de convers, compartilhei bons baseados com conhecidos e desconhecidos, fiz sexo com bem menos pessoas que disse ter feito, dividi a sombra da barraca para tirar uma ciesta, me emocionei algumas poucas vezes, e quase nunca me surpreendi, afinal, nada tão previsível como o ser humano. Imagina quando se “organizam” em um movimento que há muito já é miserável e sem criatividade! O ápice multiorgásmico foi algo que se assemelha a uma escola de samba; todos juntos na avenida, o bloco dos rebeldes (com causa). Ensaiamos nossas marchinhas, também conhecidas como palavras de ordem, tinhamos as alegorias, estandartes, a harmonia não podia ser quebrada se não algum membro “muito importante”da “comissão de segurança” vinha nos reprimir, digo, orientar. Tinhamos puxadores, agistadores, as alas e depois de muito esforço o juri nos deu nota zero e não desceu para participar da nossa festa. Descer ou pular, tanto faz, a direção “bem intencionada” disse mais uma vez o que o rebanho sentia, sem ao menos o perguntar!!! Vitória? Já vi coisas muito menores serem vitórias muito maiores. Além de tudo isso, ainda sobrou pra membros da “direção” vitoriosa uma perseguição política, acadêmica, ideológica por parte de um grupo que também quer ser a “direção”, mas que há muito não fala em nosso nome.

As garrafas de vinho na cor madeira me encantam pela cor e principalmente pelo conteúdo. Bons tempos de crise economica em São José dos Campos que me estimulava a criatividade e a solidariedade.

Enfim, Brasília tem que ficar para trás, e para ir rumo a Recife, mulheres de atitude tem que tomar a frente. Valeu Lu, ao contrário de outra que nos achavam intrusos, o mundo precisa de mais mulheres como você.

E dizem que as coisas não são possíveis. Ah se não fosse a compania da minha prima querida a viagem teria sido um tédio; mais filmes, cabaré dentro do busão e o sertão da Bahia fica para trás; assim como Aracajú e Maceió. Na terra de Chico Science me hospedo na periferia, sou recebido por um lindo dia cinzendo e chuvoso. Bons preságios desta terra para com minha pessoa. Campo Grande é onde fico, terra que já conheço, mas não como bairro de Recife. Lá tem Paty, Atamack, Carol, Adri, Toninho e a pequena Mati. Antes o mundo fosse como esta casa essa forma de viver... Procriar é um desejo constante. Tete, você é minha prima porque nós queremos que seja assim. Autogestão na casa, eu faço uma parte do almoço e também me deleito como a outra.

Nada sobra da garrafa vazia se não uma multidão de pensamentos.

Passear de bicicleta com uma garota de estrutura mediana, cabelos curtos e negros, corpo mignon na garupa... era ela que eu gostaria de carregar, mas ela está encravada em outras montanhas... porque? Porque? Porque?

O rio Capibaribe não é mais o mesmo. O centro antigo com seu cine pornô continua lá, assim como seu tradicional mercado e a praia de boa viagem. Não há muito o que contar dessa passagem tão rápida, somente que as conversas foram sempre as melhores possíveis.

De Recife à Custódia parto de carona, passando por Caruaru... triste cidade que cresce na violencia.

Cigano e niilista, será? Gracias as bençãos do esquecimento.

Após deixar minha primeira carona, logo em seguida arrumo outra; um casal de velhinhos, ele com seu boné do Brasil e ela com seu chapéu de palha, ouvindo música dos anos dourados no rádio do carro. Conversamos sobre várias coisas em especial sobre a Trans-nordestina e a transposição do rio São Francisco; há uma unanimidade em favor destas. Chego a Serra Talhada, terra de Lampião, ex fazenda, com a incrível marca de zero centavo gasto para viajar.

Mas ela, ela não está ao meu lado

Ela, a felicidade

Talvez esteja escondida dentro de mim mesmo.

Aqui nesta terra onde o coronelismo predomina (terra de José Inocencio), as muriçocas detém o movimento mais organizado e radicalizado. As incríveis ironias do mundo dos homens nos mostra que na cidade haverá uma missa em homenagem ao excomungado Lampião (???).

Os vinhos do vale do São Francisco são dignos das melhores companias e nào deixam a desejar para um chileno ou argentino.

“[...] como está adistringente essa fruta oriunda do cajueiro” (C.C.S., 2010 - grifo meu).

E Triunfo, a 30 km daqui, mas que se atravessa uma espécie de portal mágico para lá chegar, afinal quase nevar em pleno sertão parece história de pescador; blusas, casacos, cachecois, toucas, sobretudo... seria tudo isso surreal, se mais surreal ainda fosse assistir o show do Erasmo Carlos, que parecia um zumbi, meio morto meio vivo, quando de repente aparece no palco uma figura que salve engano já havia morrido: Michael Jackson. Dançando e agitando a massa. Veja, sinceramente não fiz uso de nenhum psicotrópico quando vivenciei isso, muito menos agora que me ponho a relatar, isso aconteceu de fato, e tenho testemunhas!!!

Voltamos a Triunfo na noite seguinte par anos certificarmos de todo frio que passamos e ele se repete, ainda mais intenso. Estamos na Suíça do sertão. Desta vez é Nando Reis que me tortura, me levando até minas...

Só hoje não será mais ouvido sem causar dor de um corte profundo que se incia na crista ilíaca superio esquerda e rasga corpo e vísceras até a borda medial da clavícula de mesmo lado.

A receptividade e a acolhida desse povo é humano demais... Cris, Rosa, Miguel, Rubinho.

Bem, acho que esse relato já passou dos seus limites, mesmo que ele não os tenha. É certo que algumas passagens e citações somente as pessoas que as viveram comigo entenderão; bora viver então!!

De todo modo, foi bom demais passar meu trigéssimo primeiro aniversário da presente encarnação no sertão bebendo e comendo peixe.

A possibilidade real de viver, trabalhar e gozar com sussego se aponta no horizonte; ao sacrifício da reta final.

Mais de 50 cidades....