Sobre o LAPA

O LAPA (Laboratório de Estudos e Práticas da Autogestão), muito modestamente, se propõe como um pequeno círculo de amigo(a)s e camaradas que possuem vínculos, afinidades, afetos e interesses em comum em torno do tema da auto-organização popular, talvez, como uma via possível para a emancipação de todos os subalternos e trabalhadores. Assim, é uma aposta simultânea na amizade e na revolução.

Por hora, o LAPA não se constitui como um coletivo, uma entidade ou uma organização, ainda que em potecial possa vir a ser isso ou outras coisas que nem sequer imaginamos. Como círculo, temos vínculos que nos unem para além do espaço que nos separa. Os estudos e ações que compartilharemos como círculo pode inclusive dar fôlego e alento para a formação e/ou consolidação de iniciativas coletivas e/ou individuais, nos mais distintos lugares onde nos situamos como vizinhos, estudantes, trabalhadores, etc.

A idéia de Laboratório, até agora sugerida, nasce como uma metáfora que se orienta pela dimensão experimentalista que carrega todo laboratório – e isso nos interessa particularmente, experimentar idéias e práticas, aprender e se apropriar do melhor dos processos políticos e sociais dos mais diversos movimentos de liberação que se levantaram contra todas as ordens e esquemas de dominação (inclusive os de esquerda). E mais: nosso laboratório é de bolso, se materializa e desmaterializa segundo determinadas condições ambientais e temperamentais, e talvez seremos muito mais tomados e possuídos pelas experiências do que a dissecaremos e a controlaremos, ao contrário do que ocorre com os homens-de-guarda-pó.

E se nos lançaremos a estudar e praticar a autogestão é porque ela todavia nos parece ser a melhor forma encontrada pelos dominados até hoje para que a terra, os meios de produção, o trabalho e a política (com ou sem o Estado) não se converta em monopólio e privilégio de uns poucos, e logo, instrumento de dominação, opressão e submissão de classe, casta, grupos ou camarilhas. E para isso é importante que nos alimentemos das teorias e narrativas que fundaram a autogestão como um princípio político, e que transcende, aliás, muitos projetos políticos ou ideologias (como o anarquismo e o comunismo); e ao mesmo tempo buscar compreender os caminhos e as vicissitudes das experiências de autogestão que tiveram curso, especialmente, na história moderna.



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Texto dos camradas da UFSJ

MOVIMENTO ESTUDANTIL: CRISE DE DIREÇÃO OU REPRESENTATIVIDADE?

Entendemos que a desarticulação do ME passa pela crise de representatividade. Independente de quais sejam as diretorias dos movimentos universitários, os DCE’s, UEE’s e entidades gerais não conseguem, salvo raras exceções, dar respostas para as demandas quotidianas dos estudantes, quanto mais para as questões políticas “maiores”.

DO HISTÓRICO

O movimento estudantil protagonizou diversas lutas do povo brasileiro. A criação da Petrobrás é um dos exemplos. Para além da análise da conjuntura de 50 ou 70 anos atrás, onde as disputas dos projetos de sociedade se davam de um modo mais aberto e intenso, constatamos que o movimento universitário era organizado pela base. Nas Universidades, os Centros Acadêmicos – CA’s – davam os rumos do movimento.

A ditadura de 64, na perspectiva de domar o ME, criou a figura dos DCE’s nas Universidades, organizados por eleições diretas. E nas Universidades onde já existiam DCE dirigidos pelos CA’s, acabou com o poder destes CA’s sobre o DCE, instituindo eleições diretas.

HERANÇA “GREGA”

Foi-se a ditadura, ficaram-se os DCE’s com eleições diretas. As “Diretas Já” foi uma conquista democrática, pois saímos da ditadura, saímos das trevas. Mas as diretas trazem consigo uma limitação no exercício da democracia. O povo vota de tempos em tempos, sem mecanismos de exercício direto do poder. Isso resulta no quadro atual. Para eleger um deputado, por exemplo, gastam-se milhões e milhões de reais, logo, manda quem tem dinheiro.

OS DCE’s HOJE

Nos DCE’s, a lógica não difere. São compostos por eleições diretas que exigem dinheiro, e o estudante limita-se a votar, pois elege uma diretoria com plenos poderes para mandar.

As eleições diretas são um poder limitado de democracia, pois o estudante vota numa chapa e não manda em nada depois. E por não mandar, participa pouco ou quase nada do movimento, pois é raro ver DCE’s onde votam mais de 10% dos estudantes.

Desta democracia limitada decorrem vários problemas: Corrupção, aparelhismo, carreirismo (nestes DCE’s, é comum a figura dos “estudantes profissionais”), oportunismo, etc.

MUDAR É POSSÍVEL

No entanto, outro tipo de democracia é possível, no lugar destas grandes e caras eleições. Há seis anos, quem dirige o DCE da Universidade Federal de São João del Rei – UFSJ são os CA’s e DA’s, por meio do Conselho de Entidades de Bases, que se reúne periodicamente para dar os rumos do DCE (cada CA ou DA tem um voto no conselho). Este conselho elege os cargos executivos do DCE (secretário, tesoureiro...), que têm a mera função de executar. E o principal, que é o poder que o conselho tem de revogar, sempre que necessário, qualquer dos cargos executivos do DCE. Tal democracia é mais avançada, pois:

* Dificulta a corrupção, pois um CA/DA fiscaliza o outro.

* Os CA’s/DA’s se fortalecem, pois passam a ter o poder do DCE. Na UFSJ, antes desta mudança funcionavam de fato 3 CA’s, num universo de 12 CA’s formalmente constituídos. Hoje existem 25 CA’s funcionando de fato.

* Acaba com o carreirismo, pois quem manda no DCE são os CA’s/DA’s, e não um ou outro “figurão iluminado”. É o fim da figura do “estudante profissional”.

* Os partidos políticos que desejarem participar do ME terão que mudar sua relação com o movimento, fazendo política de base nos CA’s/DA’s e atuando de maneira propositiva no conselho.

* No conselho a participação é aberta a todos os estudantes, logo não precisa ser do partido A ou B pra ajudar a construir o movimento.

* O conselho é contínuo, pois por não haver grandes eleições (e suas respectivas fraudes, denúncias, problemas com a justiça...) não se para o DCE por meses. Como o conselho é permanente, a renovação é mais saudável, pois dificilmente serão trocados todos os CA’s/DA’s de uma só vez (como acontece com uma diretoria de DCE, nos moldes atuais).

* As eleições são mais que diretas, pois a participação na eleição de um CA/DA é muito mais significativa que na de DCE (geralmente 30% votam na eleição de um CA/DA, enquanto na de DCE não se chega a 10%). Além disso, uma eleição de CA/DA é mais confiável, pois se usa pouco dinheiro e geralmente os estudantes conhecem os membros da entidade.

* O conselho, por ser aberto, torna-se multidisciplinar, o que melhora a qualidade de suas decisões.

E OS PARTIDOS PARTICIPAM DESTE TIPO DE DCE?

Este formato proposto de DCE muda a relação dos partidos. Hoje, muitos partidos, alguns que buscam a revolução, seguem a velha tática: Aparelhar um DCE, para pegar dinheiro e a imagem do movimento para colocar a seu serviço, pois entendem que assim estarão mais fortes e consequentemente mais próximos de fazer a revolução.

O que se vê, são estes partidos ganhando uma eleição de DCE para ganhar outra eleição, e pra ganha outra eleição, sendo um eterno ciclo vicioso. O que eterniza um movimento fraco, sem representatividade, e o que redunda em partidos corruptos, com uma militância treinada na fraude, no oportunismo, no carreirismo...

Com um DCE dirigido pelas bases, os partidos que buscam construir-se devem disputar sua política nas bases, junto aos CA’s e DA’s. E devem participar do Conselho de CA’s e DA’s de um modo construtivo, pois do contrário fracassarão.

OS ESTUDANTES SÃO “REACIONÁRIOS”?

É comum ver defensores da manutenção do status quo (manter os DCE’s como estão) dizerem que os estudantes são reacionários, que não participam do movimento por serem “anti-revolucionários”. É bastante óbvio que o estudante entre na Universidade com uma imagem negativa do movimento, pois somos bombardeados desde o “berço” com a propaganda de que MOVIMENTO=BADERNA.

Ora, mas o que os estudantes vêem ao entrar na Universidade? Geralmente, baderna. Um movimento pautado no divisionismo, no disputismo, na baixaria. Um movimento que pouco constrói. Sendo assim, é igualmente óbvio crer que a maioria dos estudantes ficarão a margem do movimento.

No entanto, se há uma dinâmica favorável para o movimento como tem havido na UFSJ nestes últimos anos, muitos estudantes se aproximam, constroem o movimento, e alguns acabam exercer a política para além da Universidade, organizados ou não em partidos políticos.

Um atestado disso é que, em São João Del-Rei, muitas organizações políticas estão fortalecidas, com bons militantes treinados no diálogo e na construção de um movimento de fato.



Tudo o que vejo vai mal.
Tudo o que penso, sem igual.
Teoria, minha querida,
Mostra-me o caminho da vida.

A. Glassbrenner

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