Sobre o LAPA

O LAPA (Laboratório de Estudos e Práticas da Autogestão), muito modestamente, se propõe como um pequeno círculo de amigo(a)s e camaradas que possuem vínculos, afinidades, afetos e interesses em comum em torno do tema da auto-organização popular, talvez, como uma via possível para a emancipação de todos os subalternos e trabalhadores. Assim, é uma aposta simultânea na amizade e na revolução.

Por hora, o LAPA não se constitui como um coletivo, uma entidade ou uma organização, ainda que em potecial possa vir a ser isso ou outras coisas que nem sequer imaginamos. Como círculo, temos vínculos que nos unem para além do espaço que nos separa. Os estudos e ações que compartilharemos como círculo pode inclusive dar fôlego e alento para a formação e/ou consolidação de iniciativas coletivas e/ou individuais, nos mais distintos lugares onde nos situamos como vizinhos, estudantes, trabalhadores, etc.

A idéia de Laboratório, até agora sugerida, nasce como uma metáfora que se orienta pela dimensão experimentalista que carrega todo laboratório – e isso nos interessa particularmente, experimentar idéias e práticas, aprender e se apropriar do melhor dos processos políticos e sociais dos mais diversos movimentos de liberação que se levantaram contra todas as ordens e esquemas de dominação (inclusive os de esquerda). E mais: nosso laboratório é de bolso, se materializa e desmaterializa segundo determinadas condições ambientais e temperamentais, e talvez seremos muito mais tomados e possuídos pelas experiências do que a dissecaremos e a controlaremos, ao contrário do que ocorre com os homens-de-guarda-pó.

E se nos lançaremos a estudar e praticar a autogestão é porque ela todavia nos parece ser a melhor forma encontrada pelos dominados até hoje para que a terra, os meios de produção, o trabalho e a política (com ou sem o Estado) não se converta em monopólio e privilégio de uns poucos, e logo, instrumento de dominação, opressão e submissão de classe, casta, grupos ou camarilhas. E para isso é importante que nos alimentemos das teorias e narrativas que fundaram a autogestão como um princípio político, e que transcende, aliás, muitos projetos políticos ou ideologias (como o anarquismo e o comunismo); e ao mesmo tempo buscar compreender os caminhos e as vicissitudes das experiências de autogestão que tiveram curso, especialmente, na história moderna.



segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Do rio ao sertão sem gastar nenhum tostão


“ ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais....”


Esta história, que é real e verídica, começa não de onde se inicia, um final de tarde chuvoso na capital fluminense, mas começa por motivações subjetivas precedentes, que, em última instancia tem suas influencias e determinações nas objetividades da vida. Depois de algum tempo passei a crer que a chuva que poderia ser o prelúdio de um banho de água fria que caíra impiedosamente sobre minh’alma, quase que congelando todo o calor das minhas emoções. Os canais virtuais de comunicação me trouxeram a notícia de que eu pariria partido, fragmentado, incompleto... Ora, camaradas, partamos mesmo assim, o tempo se encarregará das curas necessárias.

De 48, apenas 12 – Brasília Há vagas! – papos, filmes, música e muito conforto; a viajem foi bem UTIL. Na capital federal, uma carruagem celestial guiada por dois anjos de carne e beleza. Não farias tu a mesma troca?

Sim, eu confesso que vivi, não o ideal, mas o real e concreto. Fui o que fui e é isso que digo. Porque você não vive? Não experimenta? Não erra?

Fiz bons amigos, conheci uma centena de pessoas, fui quase sempre solidário e ouvinte atento aos dizeres de qualquer natureza dos outros, andei com e sem rumo, vendo pessoas e prédios, de perto e de muito alto. Mas,... independente de onde, como e com quem, ainda somos os mesmos e cometemos os mesmos erros que nossos pais. E a todo momento o pensamento se volta às montanhas das Minas Gerais, mas de nada adianta.

Para você que não é portador e defensor árduo de nenhuma cartilha receituária da “revolução proletária” abre as portas da mente e do coração para um esforço sincero de compreenção do olhar alheio e a tranquilidade e paz de espírito de não ver o diferente como inimigo. Nosso espaço de convívio tem que ser preservado mas aberto; aberto mas preservado.

Brasília bem que podia ser um mauzoléu de gente viva concretadas em suas casas. Não se ve gente nas ruas. Ninguém melhor que Renato Russo descreveu a vida desse lugar.

Bebi o que tinha pra beber, do simples suco ao refrigerante de camarão, conhecida como Pitú; participei de boas rodas de convers, compartilhei bons baseados com conhecidos e desconhecidos, fiz sexo com bem menos pessoas que disse ter feito, dividi a sombra da barraca para tirar uma ciesta, me emocionei algumas poucas vezes, e quase nunca me surpreendi, afinal, nada tão previsível como o ser humano. Imagina quando se “organizam” em um movimento que há muito já é miserável e sem criatividade! O ápice multiorgásmico foi algo que se assemelha a uma escola de samba; todos juntos na avenida, o bloco dos rebeldes (com causa). Ensaiamos nossas marchinhas, também conhecidas como palavras de ordem, tinhamos as alegorias, estandartes, a harmonia não podia ser quebrada se não algum membro “muito importante”da “comissão de segurança” vinha nos reprimir, digo, orientar. Tinhamos puxadores, agistadores, as alas e depois de muito esforço o juri nos deu nota zero e não desceu para participar da nossa festa. Descer ou pular, tanto faz, a direção “bem intencionada” disse mais uma vez o que o rebanho sentia, sem ao menos o perguntar!!! Vitória? Já vi coisas muito menores serem vitórias muito maiores. Além de tudo isso, ainda sobrou pra membros da “direção” vitoriosa uma perseguição política, acadêmica, ideológica por parte de um grupo que também quer ser a “direção”, mas que há muito não fala em nosso nome.

As garrafas de vinho na cor madeira me encantam pela cor e principalmente pelo conteúdo. Bons tempos de crise economica em São José dos Campos que me estimulava a criatividade e a solidariedade.

Enfim, Brasília tem que ficar para trás, e para ir rumo a Recife, mulheres de atitude tem que tomar a frente. Valeu Lu, ao contrário de outra que nos achavam intrusos, o mundo precisa de mais mulheres como você.

E dizem que as coisas não são possíveis. Ah se não fosse a compania da minha prima querida a viagem teria sido um tédio; mais filmes, cabaré dentro do busão e o sertão da Bahia fica para trás; assim como Aracajú e Maceió. Na terra de Chico Science me hospedo na periferia, sou recebido por um lindo dia cinzendo e chuvoso. Bons preságios desta terra para com minha pessoa. Campo Grande é onde fico, terra que já conheço, mas não como bairro de Recife. Lá tem Paty, Atamack, Carol, Adri, Toninho e a pequena Mati. Antes o mundo fosse como esta casa essa forma de viver... Procriar é um desejo constante. Tete, você é minha prima porque nós queremos que seja assim. Autogestão na casa, eu faço uma parte do almoço e também me deleito como a outra.

Nada sobra da garrafa vazia se não uma multidão de pensamentos.

Passear de bicicleta com uma garota de estrutura mediana, cabelos curtos e negros, corpo mignon na garupa... era ela que eu gostaria de carregar, mas ela está encravada em outras montanhas... porque? Porque? Porque?

O rio Capibaribe não é mais o mesmo. O centro antigo com seu cine pornô continua lá, assim como seu tradicional mercado e a praia de boa viagem. Não há muito o que contar dessa passagem tão rápida, somente que as conversas foram sempre as melhores possíveis.

De Recife à Custódia parto de carona, passando por Caruaru... triste cidade que cresce na violencia.

Cigano e niilista, será? Gracias as bençãos do esquecimento.

Após deixar minha primeira carona, logo em seguida arrumo outra; um casal de velhinhos, ele com seu boné do Brasil e ela com seu chapéu de palha, ouvindo música dos anos dourados no rádio do carro. Conversamos sobre várias coisas em especial sobre a Trans-nordestina e a transposição do rio São Francisco; há uma unanimidade em favor destas. Chego a Serra Talhada, terra de Lampião, ex fazenda, com a incrível marca de zero centavo gasto para viajar.

Mas ela, ela não está ao meu lado

Ela, a felicidade

Talvez esteja escondida dentro de mim mesmo.

Aqui nesta terra onde o coronelismo predomina (terra de José Inocencio), as muriçocas detém o movimento mais organizado e radicalizado. As incríveis ironias do mundo dos homens nos mostra que na cidade haverá uma missa em homenagem ao excomungado Lampião (???).

Os vinhos do vale do São Francisco são dignos das melhores companias e nào deixam a desejar para um chileno ou argentino.

“[...] como está adistringente essa fruta oriunda do cajueiro” (C.C.S., 2010 - grifo meu).

E Triunfo, a 30 km daqui, mas que se atravessa uma espécie de portal mágico para lá chegar, afinal quase nevar em pleno sertão parece história de pescador; blusas, casacos, cachecois, toucas, sobretudo... seria tudo isso surreal, se mais surreal ainda fosse assistir o show do Erasmo Carlos, que parecia um zumbi, meio morto meio vivo, quando de repente aparece no palco uma figura que salve engano já havia morrido: Michael Jackson. Dançando e agitando a massa. Veja, sinceramente não fiz uso de nenhum psicotrópico quando vivenciei isso, muito menos agora que me ponho a relatar, isso aconteceu de fato, e tenho testemunhas!!!

Voltamos a Triunfo na noite seguinte par anos certificarmos de todo frio que passamos e ele se repete, ainda mais intenso. Estamos na Suíça do sertão. Desta vez é Nando Reis que me tortura, me levando até minas...

Só hoje não será mais ouvido sem causar dor de um corte profundo que se incia na crista ilíaca superio esquerda e rasga corpo e vísceras até a borda medial da clavícula de mesmo lado.

A receptividade e a acolhida desse povo é humano demais... Cris, Rosa, Miguel, Rubinho.

Bem, acho que esse relato já passou dos seus limites, mesmo que ele não os tenha. É certo que algumas passagens e citações somente as pessoas que as viveram comigo entenderão; bora viver então!!

De todo modo, foi bom demais passar meu trigéssimo primeiro aniversário da presente encarnação no sertão bebendo e comendo peixe.

A possibilidade real de viver, trabalhar e gozar com sussego se aponta no horizonte; ao sacrifício da reta final.

Mais de 50 cidades....

2 comentários:

  1. Quem te acompanha mesmo que nao de tão perto consegue entender perfeitamente o que esse texto significa, parabéns pela experiência e vivência.

    ResponderExcluir
  2. Primo somos primos por que eu quero e pronto!!!
    você conquistou-me e não é dificil decobrir o porquê lendo um texto como esse...
    só acho que vc mentiu sobre minha compania, até pq dormir como uma pedra ;P se é que dormem, quem sabe?
    muitas saudades de vc*
    não vejo a hora de te reencontrar e viver muitas aventuras contigo... pessoa, primo, amigo... :)

    ResponderExcluir